História das história do Rei do futebol Pelé

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O Rei, segundo dados oficiais de Rogério Lopes Zilli, estudioso que contribuiu com a montagem do Museu Pelé, fez 1.282 gols em 1.366 partidas durante os 21 anos de carreira (Foto Arena)

O velho Maracanã comportava mais de 253 mil pessoas amontoadas nas arquibancadas e um punhado de jornalistas, brasileiros e estrangeiros, em volta do gramado, em 19 de novembro de 1969, também uma quarta-feira, há 45 anos: havia a expectativa, que se cumpriu, de que Pelé, àquela época já Rei do Futebol e bicampeão mundial pela Seleção, marcasse o milésimo gol de sua carreira. O craque balançou as redes de pênalti, perto do fim de um confronto que se encaminhava para um empate morno em 1 a 1 contra o Vasco da Gama do goleiro Edgardo Andrada. Ao FOXSports.com.br, Odir Cunha, historiador do Peixe, contou o que antecedeu o tento inesquecível.

“À medida que o gol foi se aproximando, um número cada vez maior de pessoas passou a acompanhar de perto o desenrolar dos jogos, o futebol foi entrando em estado de ansiedade”, disse. Naturalmente, Pelé também. A publicação da Folha de S.Paulo do dia posterior ao “milésimo do Rei” lembra que o craque não conseguiu esconder o seu “estado emocional” desde o começo da edição de 1969 do Torneio Roberto Gomes Pedrosa, então o principal campeonato nacional do Brasil. “Prova está no recente jogo contra o Corinthians, vencido pelo time de Parque São Jorge por 4 a 1. Nos instantes finais, falta que Pelé cobra e marca. Vibração do craque para um gol de um jogo perdido, mas que seria o de número 996. Impedimento de Abel, porém, fez com que o juiz não validasse o gol”, conta o relato.

“Contra o Botafogo da Paraíba, no Estádio Governador José Américo de Almeida, ele fez o 999. Virou goleiro para não fazer mais nenhum lá, queria que fosse em um jogo maior”, garante Odir. “Depois, na Fonte Nova, contra o Bahia, realmente quis marcar o milésimo, mas a bola não entrou. Teve até chute na trave. O próprio torcedor do Tricolor se irritou, eles queriam ver acontecer”, continuou. “Mas não tinha palco melhor, tinha de ser no Maracanã, onde ele se revelou grande jogador, conquistou Mundial pelo Santos em 1963 e tantos outros títulos. Essa partida foi transmitida para outros países ao vivo, o que não era comum na época. No mesmo dia, o homem pousou na Lua pela segunda vez, episódio também transmitido para o mundo todo – a primeira vez havia sido em julho. A audiência de Vasco x Santos foi maior”, contou.

SE NÃO FOSSE O EXÉRCITO…

A contagem até o milésimo gol seguiu a pesquisa de Adriano Neiva, o Devaney, jornalista e primeiro biógrafo do Rei. Entre todos, lembra Odir, estão incluídos os 15 que Pelé marcou durante os anos em que serviu o Exército. Mas e se eles fossem descontados, para quem o Vasco transferiria a pecha de time que levou o tento histórico? O historiador fez as contas: deu Universidad Católica, do Chile.

Nesse caso, o goleiro lembrado negativamente não seria o uruguaio Andrada, mas o chileno Trepiana. Em 7 de fevereiro de 1970, o Santos encarou a Católica na capital Santiago, no Estádio Nacional, para um público pouco superior a 63 mil pessoas. O clube paulista venceu por 3 a 2, com dois de Pelé: o primeiro deles foi o 15º desde aquele que confirmou o triunfo contra o Gigante da Colina no ano anterior, no Maracanã.

O confronto foi válido pelo Torneio Hexagonal – do qual o Alvinegro terminou campeão.

COMO FOI ESSE VASCO X SANTOS?

Conta o relato do jornal o Estado de S. Paulo do dia 20 de novembro de 1969 que o Vasco estava mais empenhado em impedir o gol mil do que em vencer o Santos. Os visitantes, por outro lado, procuravam o Rei a todo o momento. E Pelé? Ele, ao notar a dificuldade para furar o bloqueio rival, descaiu à zona central, a fim de armar o time.

Teve a primeira chance aos 20 minutos: uma bomba de fora da área que obrigou Andrada a se esticar para buscar no ângulo. Aos 22, falhou em um tiro de falta. Aos 33, Edu invadiu a área com condições de chute, mas preferiu o cruzamento para o camisa 10, que cabeceou para longe. Pelé enfiou bola no travessão aos 36.

Já no segundo tempo, Renê marcou contra, aos 10 minutos – o craque, logo atrás, estava pronto para estufar as redes. Aos 31, diz a publicação, poderia ter sido expulso pela insistência e veemência na reclamação de um impedimento marcado pelo árbitro. Aos 34, Fernando cometeu pênalti, que até hoje jura não ter feito. O craque bateu no canto esquerdo de Andrada e correu para o abraço.

FICHA TÉCNICA

19/11/1969 – Vasco 1 x 2 Santos
Gols: Renê (contra) e Pelé (pênalti); Benetti
Local: Maracanã – Rio de Janeiro
Público: 65.157
Árbitro: Manoel Amaro de Lima

Vasco: Andrada, Fidélis, Moacir, Renê, Eberval, Fernando, Buglê, Benetti, Acelino (Raimundinho), Adílson, Danilo Menezes (Silvinho). Técnico: Célio De Souza.

Santos: Agnaldo; Carlos Alberto, Ramos Delgado, Djalma Dias (Joel Camargo) e Rildo; Clodoaldo e Lima; Manoel Maria, Edu, Pelé (Jair Bala) e Abel. Técnico: Antoninho.
Homenagem da Cooperativa Central dos Produtores de Açúcar e Álcool do Estado de São Paulo, publicada na Folha de S.Paulo em 20 de novembro de 1969 (Reprodução / Folha de S.Paulo)

E OS CRAQUES DE HOJE?milgolpelé

O Rei, segundo dados oficiais de Rogério Lopes Zilli, estudioso que contribuiu com a montagem do Museu Pelé, fez 1.282 gols em 1.366 partidas durante os 21 anos de carreira. Tem média de 0,93 gols por duelo. Chegou ao milésimo aos 27 anos, na sua 11ª temporada como profissional. Veja comparação com os dois destaques do futebol atual:

Lionel Messi: média de 0,76 gols por jogo

La Pulga, de 27 anos, tem 410 gols marcados em 10 anos de Barcelona e Seleção Argentina. Foram 537 partidas desde então. Para além, balançou as redes 41 vezes por temporada, em média. Caso mantenha o ritmo, chegará ao milésimo só em 2028, aos 41 anos – e aos 1.282 tentos em 2035, quando comemorará o 50º aniversário.

Cristiano Ronaldo: média de 0,63 gols por jogo

O português Cristiano Ronaldo tem 29 anos, 12 deles no futebol, e soma 450 gols em 704 partidas. Em média, o “gajo” vence os goleiros rivais 37,5 vezes por temporada. A 550 tentos do milésimo, demoraria 14 anos nesta mesma batida para chegar lá. Ou 22 anos para alcançar a marca de 1.282 gols do brasileiro.

Os 7 legados de Pelé

1 – Mítica da camisa 10

Nem sempre a camisa 10 carregou o significado mítico que tem hoje no futebol. Sinônimo de craque absoluto, capaz de resolver sozinho uma partida. E Pelé foi o principal responsável por essa mudança no mundo da bola. À sua época, grandes craques como Di Stefano e Eusébio, por exemplo, usavam a 9. Puskas já usava a 10, mas foi às costas de Pelé que o número se transformou em sinal de genialidade.

2 – A marca dos 1000 gols

Outros jogadores chegaram antes de Pelé ao gol 1000, como Arthur Friedenreich e Josef Bican, mas ainda na primeira metade do século XX, quando o rádio ainda era o principal meio de comunicação de massa. Assim, a marca foi imortalizada nos pés do maior de todos os tempos. Foi de pênalti, contra o Vasco, no Maracanã, às 23h11min do dia 19 de novembro de 1969, diante de 65.157 pagantes. A partir de então, fazer 1000 gols na carreira virou sinônimo de igualar ninguém menos que Pelé.

3 – Soco no ar

Há algo comum entre os mais de mil gols marcados por Pelé: o soco no ar. A comemoração virou marca registrada do maior jogador de todos os tempos. Hoje é quase impossível ver um jogador celebrando um tento com socos no ar e não associá-lo ao tradicional gesto a Pelé.

4 – ‘O gol que Pelé não fez’

No primeiro jogo do Brasil na Copa de 70, vitória por 4 a 1 contra a Tchecoslováquia, Pelé quase marcou um golaço de cobertura no goleiro Viktor, mas a bola passou tirando tinta da trave. Na semifinal no mesmo Mundial, vitória de 3 a 1 contra o Uruguai, Pelé deu um drible da vaca no goleiro Mazurkiewicz, usando somente o jogo de corpo, mas desperdiçou. A partir de então, toda vez que um jogador marca um gol em jogadas semelhantes, usa-se a expressão? O gol que Pelé não fez?.

5 – Tratar-se em 3ª pessoa

Quem nunca viu uma entrevista de Pelé e achou curioso ele referir a si mesmo em terceira pessoa? Isto é, em vez de falar simplesmente? Eu?, Pelé fala ?Pelé?. É como se Edson Arantes do Nascimento fosse uma pessoa, fora de campo, e Pelé fosse outra, resultado de todas as glórias no gramado. Depois dele, outras personalidades públicas lançaram mão do mesmo artifício, como Dadá Maravilha.

6 – Lei Pelé

Em 1998, quando o Rei era Ministro dos Esportes de Fernando Henrique Cardoso, foi promulgada a Lei 9.615, apelidada de Lei Pelé. Ela extinguiu a lei do passe, tirando dos clubes a administração dos contratos dos jogadores. Antes disso, o passe vinculava o atleta ao clube mesmo em ausência de contrato. As negociações eram feitas entre clubes e muitas vezes os jogadores não eram consultados. A Lei Pelé também normatizou o direito do consumidor no futebol, criou verbas para esportes olímpicos e determinou a independência dos Tribunais de Justiça Deportiva, mas também houve críticas, principalmente em relação ao domínio de empresários do futebol, o que se consolidou a partir de então.

7 – Os ‘novos Pelés’

Toda vez que um garoto franzino e bom de bola desponta para o futebol, logo surge a comparação. É o novo Pelé? É verdade que quase sempre é um grande exagero, mas não foram poucos a serem comparados ao Rei do futebol. Neymar, Robinho e Dener são alguns bons exemplos. Além disso, alguns jogadores ganharam a alcunha de Pelé? Em seus países. É o caso de Abedi Ayew, maior artilheiro da história de Gana, que virou Abedi Pelé.

 

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