Tormentas da corrupção

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Enquanto a população norte-americana convive diariamente com os furacões que ameaçam varrer casas e destruir vidas, os brasileiros deitam e acordam com as tormentas da corrupção. São denúncias bombásticas, gravações de teores imorais, apreensões de montanhas de dinheiro limpo roubado de gente do bem, por pessoas sujas. As cenas do “tesouro perdido” encontrado em um apartamento na Bahia que invadiram as residências em plena Semana da Pátria, mais pareciam filmes de gângster, daqueles de fazer inveja aos mais originais roteiros hollywoodianos. Na realidade, as práticas de parte da elite brasileira, que inclui políticos da direita, da esquerda, do centro e empresários de variados ramos, escancaradas pela mídia, além de causarem dor porque também destroem vidas, causam revolta e nojo.

O que estarrece é que a quantia de mais de R$ 51 milhões em dinheiro vivo encontrado na Bahia parece troco diante do montante desviado por sete políticos da alta cúpula do Partido do Movimento Democrático Brasileiro e que segundo a Procuradoria Geral da República chega à cifra de R$ 5 bilhões, causando prejuízo à Petrobrás e à Transpetro. Eles estão sendo acusados de praticarem crime de organização criminosa.

Como já foi dito aqui neste espaço jornalístico, se ao invés de desviarem recursos em benefício próprio, alguns políticos trabalhassem em prol da sociedade, o Brasil seria colecionador dos melhores índices de desempenho na área da saúde, educação, segurança e infraestrutura. Entretanto, as estatísticas oriundas de estudos recentes mostram que o caminho é inverso.

De acordo com uma pesquisa realizada por um grupo de economistas, o Brasil sofreu um desvio total de R$ 1,6 trilhão, com uma perda anual média de R$ 52,4 bilhões. Segundo o levantamento, se esse dinheiro tivesse sido aplicado em uma caderneta de poupança, a 6% ao ano, teria se transformado em R$ 3,2 trilhões, ou seja, mais da metade do Produto Interno Bruto brasileiro em 2016 (R$ 6 266 trilhões de reais).

Ainda segundo a pesquisa, R$ 1,6 trilhão seria suficiente para resolver um sério problema da educação no Brasil. Atualmente, o País tem mais de 8 milhões de crianças, de 0 a 5 anos, fora das creches e escolas. Com esse dinheiro, seria possível construir mais de 50 mil creches e pré-escolas e garantir a manutenção da Educação Infantil, em tempo integral, por mais 20 anos. Isso garantiria a educação de todas as crianças brasileiras nessa faixa etária.

Estas práticas lesivas fazem com que o Brasil ocupe a 79ª posição no ranking da Transparência Internacional sobre a percepção da corrupção no mundo, em uma lista de 176 nações. Esta é apenas uma das estatísticas que coloca o País em uma posição nada confortável, quando se trata desse tipo de crime. O problema é que outros tantos dados, como os números já contabilizados pela operação Lava Jato, reforçam o quanto a nação é frágil nesse quesito.

Se há pouco mais de 10 anos o Brasil havia se chocado com o escândalo do Mensalão, quando foram identificados desvios da ordem de R$ 100 milhões, fruto do pagamento de propinas a parlamentares para que votassem a favor de projetos do governo, agora, quando apenas um ex-gerente da Petrobras se compromete a devolver US$ 100 milhões (R$ 326 milhões), é porque a situação é ainda mais desafiadora. Alguns números apurados pela força-tarefa da Lava Jato dão a dimensão desse problema, que é um dos mais graves que o país tem para superar. Entre eles, estão os R$ 10 bilhões desviados e já recuperados pelos cofres públicos e os R$ 6 bilhões reconhecidos pela própria Petrobras como prejuízos com propinas.

Como se não bastassem os fatos recentes e que causaram impacto, o Brasil também foi sacudido pelas declarações do ex-ministro Antonio Palocci, em depoimento ao juiz Sérgio Moro, de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um “pacto de sangue” com a Construtora Odebrecht. A Semana da Pátria foi concluída com a prisão dos empresários Joesley Batista e Ricardo Saud, que estão sendo acusados de terem mentido à Procuradoria Geral da República. Por mais surpreendentes que se mostrem novos fatos e alvos que surjam com os desdobramentos das operações anticorrupção, esse é um momento histórico do país e deve ser aproveitado.

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