A trave e o argueiro

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Solidônio Cedro, bom pregador e diácono, hoje no céu, contou, certa vez, numa de suas mensagens, ter tido dois vizinhos em Honório Gurgel, a quem vamos chamar aqui de Seu Alfredo e Seu Honório, respectivamente. Os três eram amigos. Seu Alfredo tinha uns filhos indisciplinadíssimos, que sempre criavam problemas para ele e para os outros. Mas ele só via as estripulias dos filhos dos outros; os dele eram a encarnação da santidade.

Um dia, um carro estacionou próximo à casa do Seu Honório. Dentro do carro, um casal apaixonadíssimo trocava intimidades, deixando escandalizados os transeuntes. Seu Alfredo apareceu na área. Vendo aquele teatro e sem conseguir distinguir o rosto do rapaz do da moça, foi logo dando a sentença de condenação: “Pouca vergonha! Dá vontade de pegar um revólver e disparar, só para espantar essa imoralidade”. Seu Honório limpou a garganta a ver se podia expressar-se com toda a clareza e vigor: “É a sua filha, Alfredo!”.

Não devemos ficar por demais ocupados nem preocupados com os defeitos dos outros, esquecendo nossas próprias falhas. Vai acontecer que apontando os erros dos outros ao Senhor, Ele mesmo se encarregará de redirecionar os nossos dedos para nós. A tentação do exame da vida alheia foi condenada por Jesus quando disse: “E por que vês o argueiro no olho do teu irmão, e não reparas na trave que está no teu olho?” (Mt 7.3). O apóstolo Paulo fala do assunto quando instrui Corinto sobre a celebração da Ceia. Antes de participar, o crente deve proceder a um autoexame: “Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim coma do pão e beba do cálice” (1Co 11.28). É muito mais fácil examinar a vida alheia. É extremamente mais tentador fixar os olhos nos erros dos outros, nos pecados de terceiros. Mas Paulo não manda examinar os outros, mas cada um a si mesmo. Está ele então falando de autoexame, e nós sabemos que um autoexame é sempre uma quebra na rotina.

Pr. João Soares da Fonseca

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