O que está errado com o Evangelho? “O que foi removido?”

591

Introdução

Sei que muitos franzirão a testa por causa do título do artigo e dirão, logo de cara: “Ah não, Keith, desta vez você passou dos limites!” Mas, desde já, quero colocar essas reações para escanteio. Posso responder facilmente que não há absolutamente nada errado com o Evangelho; isto é, se estivermos falando do Evangelho da Bíblia – a mesma mensagem que Jesus pregava, à qual os apóstolos Pedro, Paulo, João e os demais dedicaram suas próprias vidas (e mortes) (Fp 1:20-21).

Não, não há absolutamente nada de errado com essa mensagem vinda do céu. Mas e quanto ao que vem sendo pregado hoje? Trata–se realmente do “Evangelho”? Será que os evangelistas que pregam nas igrejas, estádios, rádio e televisão estão pregando aquilo que Jesus chamava de Evangelho? (Mt 4:23; Mc 1:14-15, 16:15; Lc 3:16-18.) E o que dizer da grande quantidade de “literatura evangelística” moderna? Isso mesmo, estou falando dos folhetos, panfletos, histórias em quadrinhos, jornais, etc. Será que eles contêm a mensagem completa sobre a salvação que Jesus pregava? Como é que estamos respondendo à pergunta crucial que as pessoas fizeram no dia de Pentecostes, e que ainda hoje perguntam à Igreja, “Que faremos, homens irmãos?” (Lc 3:10,12,14; At 2:37, 16:30.)

O nosso evangelho é “o” evangelho?

Creio de todo o coração que Jesus se envergonharia da maioria das mensagens e sermões “evangelísticos” que são pregados hoje, principalmente por não conterem a maioria dos pontos cruciais que Ele próprio enfatizava (Mc 8:38; Rm.1:16; 2 Tm. 1:8). Que direito temos de alterar o Evangelho, removendo a maioria das suas partes vitais para substituí-las com membros artificias que nós mesmos criamos (Gal.1:6-7)?

Será que não devemos avaliar nosso evangelismo pelo exemplo de Jesus, o maior dos evangelistas? (Ef 5:1; 1 Pe 2:21; 1 Jo 2:6.) Será que a Sua mensagem era a mesma que estamos ouvindo hoje? Minha intenção é discorrer brevemente na seção 1 sobre cada uma das partes principais do Evangelho que a maioria das pregações de hoje removeram “cirurgicamente”. Já na seção 2, falaremos sobre os “acréscimos” que se tornaram parte do nosso “evangelho” moderno.

As partes que foram removidas do evangelho

O Sangue de Jesus. É verdade que a própria palavra “sangue” já assusta as pessoas. Também é verdade que o sangue de Cristo amedronta o diabo, por ser a única coisa que purifica uma alma enferma por causa do pecado. (Mt 26:28; At 20:28; Rm 3:25, 5:9; Ef 1:7, 2:13; Cl 1:20; Hb 9:14,22, 10:19, 13:12; 1 Pe 1:2; 1 Jo 1:7; Ap 1:5, 5:9, 12:11, 19:13.) Você consegue imaginar como seriam os escritos de Paulo, se ele tivesse sido tão irresponsável quanto a nossa geração de pregadores ao proclamar o poder magnífico e a beleza do sangue de Jesus? O que temos agora é apenas um evangelho sem sangue!

Hoje, as pessoas têm medo de pensar e os pregadores têm medo de fazê-las pensar. Estamos perdendo completamente o conceito de Jesus como o Cordeiro Pascal do Velho Testamento. (Ex 12:23-24; Is 53:7; Lc 22:15; Jo 1:29,36; 1 Co 5:7; 1 Pe 1:19; Ap 5:6,12, 7:14, 22:1,3.) “Mas toma muito tempo e raciocínio para explicar,” diriam alguns (Hb 5:11-14). “Precisamos simplificar o Evangelho para alcançar as massas”. Ah, que lógica! Se removermos o sangue da pregação do Evangelho, automaticamente removeremos o poder para vencer o diabo e conquistar as almas dos homens!

A Cruz de Jesus. Paulo disse, “Porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado” (1 Co 2:2). Hoje, por outro lado, só se fala em “o que Jesus Cristo pode fazer por você!” O Evangelho bíblico centrado em Cristo (Mt 10:38; Lc 14:27; 1 Co 1:17-18; Gl. 6:14; Ef 2:16; Cl 1:20; 1 Pe 2:24.) e o nosso “evangelho” moderno, sem cruz e centrado no “eu”, são totalmente opostos um ao outro.

Hoje, se alguém prega a autonegação como condição para o discipulado, as pessoas acabam rotulando: “antiquado”, “duro”, “legalista”. Chego até a dizer que os nossos pregadores teriam tanto problema em aceitar o Senhor entre eles quanto os líderes religiosos dos Seus dias.

Leia o que A.W. Tozer disse sobre a cruz:

“A cruz é a coisa mais revolucionária que já apareceu entre os homens. A cruz dos tempos romanos não fazia acordos ou concessões, mas vencia todas as suas disputas matando e silenciando seus oponentes. Também não poupou a Cristo, porém matou-o tal qual os outros.

Ele estava bem vivo quando O penduraram na cruz, e completamente morto quando O retiraram. Assim era a cruz quando surgiu na história da Cristandade.

Perfeitamente ciente disto, Cristo disse ‘Se alguém quer vir após Mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me.’ Assim, a cruz não apenas trouxe ao fim a vida de Cristo, mas também põe um fim à velha vida de cada um dos Seus verdadeiros seguidores . . . isto e nada menos é o Cristianismo verdadeiro. Temos que tomar uma atitude com relação à cruz, e só há uma entre duas opções – fugir dela ou morrer nela!”

A Ameaça e os Terrores do Inferno, Bem Como a Culpa dos Pecadores

Frequentemente as pessoas me dizem, “Estou enjoado de pregações sobre inferno, fogo e enxofre!” “Bem”, costumo responder, “quando foi a última vez que você ouviu alguma?” É verdade, pouquíssimas pessoas ainda pregam sobre o inferno, pois já saiu de moda. Argumentam que não adianta assustar os pobres pecadores. Afinal, os pecadores são apenas almas infelizes, levadas pelo mau caminho, certo? Errado! A Bíblia mostra claramente que são rebeldes que roubaram e desonraram ao Deus vivo, ofendendo-O infinitamente (Jo 8:44; At 13:9-11; 1 Co 6:9; Gl 4:16;Ef 2:1-3; Tg 4:4; 2 Pe 2:12-19.), não tendo o direito de olharem para si mesmos sob qualquer outra perspectiva. Mas nós, espertos como somos, decidimos dar uma “mãozinha” para Deus. “Ah, Ele não entende a nossa geração tão bem quanto nós. As coisas que Jesus enfatizava na Sua pregação eram para os judeus, e a nossa geração precisa de um tom mais suave, mais amável. Fale com eles a respeito do céu!” Então falamos sobre o céu, sobre as “recompensas de se nascer de novo”, e acabamos negligenciando completamente o outro lado da “espada de dois gumes” (Hb 4:12). Que direito temos de remover do Evangelho as coisas que o próprio Jesus dava grande importância na Sua pregação?

A Lei de Deus Pregada Para se Convencer do Pecado. Poderíamos escrever páginas sobre este assunto, mas só há espaço para um breve exemplo. Quando o jovem rico veio a Jesus, fez uma pergunta bem direta: “Bom mestre, o que devo fazer para herdar a vida eterna?” Você consegue imaginar o que os pregadores de hoje responderiam? “Apenas admita que é um pecador, aceite Jesus como Salvador pessoal, vá à igreja, pague os dízimos, tente ser bonzinho, e você já tá dentro!” Mas qual foi a resposta de Jesus? “Sabes os mandamentos” (Mc 10:19); “Se queres, porém, entrar na vida, guarda os mandamentos” (Mt 19:17). O quê? Os mandamentos? Ora, eles já não valem mais, morreram junto com o Cecil B. DeMille! Afinal, não estamos na “era da graça”? (Cecil B. DeMille é o autor do filme “Os Dez Mandamentos” – NT)

Bem, a verdade é que Jesus não estava pregando os mandamentos como um caminho para a salvação, mas apenas para convencer o jovem rico do pecado específico da ganância. Aquele jovem rico amava os dólares, e Jesus sabia exatamente como desarmá-lo – pregando a Lei! A Lei existe justamente para isso – “Pois pela Lei, vem o conhecimento do pecado” (Rm 3:20), já dizia Paulo. Devemos pregar a Lei, não como um caminho para a salvação, mas como uma candeia colocada no coração do pecador, de modo que ele possa ver quão podre ele é, comparado com as exigências de Deus (Gl 3:24).

Mas hoje em dia, para variar, somos mais espertos que Deus. Nossa pregação já não contém mais os “Farás isto” e “Não farás aquilo”. De jeito nenhum, não queremos assustar a “geração liberada”. Ora, se dissermos que a fornicação é errada, ou as drogas, ou aborto, ou qualquer outro pecado específico, as pessoas poderiam se sentir condenadas e então como é que seriam salvas? Mas mesmo assim Jesus pregou a Lei ao jovem rico, de modo que, ao se sentir condenado por causa da ganância, ele poderia se voltar para Jesus, obedecendo-O, e então encontrar o verdadeiro tesouro no céu. “Vai, vende tudo quanto tens, e dá-o aos pobres e terás um tesouro no céu; e vem, toma a cruz, e segue-me” (Mc 10:21). Se as pessoas não forem verdadeiramente convencidas de pecado, se não virem que estão totalmente condenadas pelos requisitos da Lei de Deus, então será praticamente impossível mostrá-los a necessidade de um salvador. Ora, do que então elas precisariam ser salvas? Engraçado, não?

1 COMENTÁRIO

  1. Realmente. Artigo nota 10. Eu mesmo na minha santa ignorância não acredito em um DEUS que não me PUNE de acordo com meu CRIME (pecado) e que basta eu me converter a qualquer das dos “caminhos ditos cristãos” e que pagando o dízimo ou contribuindo financeiramente de qualquer forma “ESTEJA SALVO”. Acredito num DEUS PAI que pune exemplarmente seu FILHO pelos erro (s) cometido (s). Simples assim.

FAÇA UM COMENTÁRIO

Por favor digite um comentário
Por favor digite seu nome aqui