Sem Medo de Ser Feliz

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Leio que em Bengala, um dos 28 Estados da Índia, adora-se uma deusa chamada Sakti. Filósofos como Sankara, Ramakrishna, Vivekananda e outros são alguns de seus devotos. Quando assume a forma de Kali, a deusa se torna violenta e sanguinária, causando, conforme se crê, epidemias, terremotos, inundações e outras calamidades, deitando sangue pela boca. Num de seus quadros, é vista com uma tesoura, a cortar o fio da vida. Desesperados, seguidores seus nas classes inferiores da Índia, irrompiam pelos campos, estrangulando a quantos encontrassem, na crença de que um sacrifício humano saciaria por 1.000 anos a sede de sangue da deusa.

Uma cena interessante no filme O suplício de uma saudade revela uma prática parecida entre os chineses. Num diálogo, o ator principal faz referência ao fato de que quando alguns chineses colhem arroz, com medo de que os deuses venham roubar-lhes a colheita, tentam se defender usando de um artifício: eles põem as mãos na boca, numa espécie de megafone, olham para o horizonte e gritam:

― Arroz ruiiiiiiiiiiiiimmm!

Isso explica por que certa vez um chinês achou estra

nho que os cristãos pudessem cantar “Mais perto quero estar, meu Deus, de ti”. Para a tradição de onde ele vinha, quanto mais longe dos deuses, melhor para o homem.

Enquanto no paganismo os homens correm dos seus deuses, no cristianismo somos convidados a correr para o nosso e descansar em seus braços. Porque ele “opera a favor daquele que por ele espera” (Isaías 64.4). Observe bem: “a favor”, e não contra. Os filhos de Deus são uns privilegiados: desfrutam de tal intimidade com o Pai, que podem até chamá-lo “aba”, “papai” (Mc 14.36; Rm 8.15; Gl 4.6). Além disso, podem se aproximar, pois são por ele cuidados e carregados no colo (Isaías 40.11). É por isso que o salmista convoca os fiéis: “Servi ao Senhor com alegria; apresentai-vos a ele com cântico” (Salmo 100.2). O serviço cristão é prestado com a alegria de quem tem muito a agradecer.

João Soares da Fonseca

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