O fino fio que tece a humanidade

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cantinho_poeticoO erótico e suas facetas desnudas aos olhos da humanidade em agregação com fragmentos humanos, revela ao homem sua origem e o instiga a vencer um pouco de seus medos, que apesar de alguns avanços ainda promove em algumas mentes o efeito contrário levando-os à não saber dialogar com o corpo.

É sabido que vários tabus não foram sepultados e ao largo da sociedade parecem interrogações diante de mostras de nudismo, sensualidade e erotismo, dentro da Arte em arte.

O homem busca a idéia de complementação e vai acordar na Filosofia seus questionamentos, ou percorre a História em busca de algo que defina o que faltava ou o que falta para o encontro com o seu todo.

Eu diria, muitos não descobriram o ‘eu-erótico’ que habita todos os animais, dos irracionais aos racionais e, segue por caminhos de dúvidas, sacanagens e bacanais às escuras a procura do exato momento da afirmação erótica. O homem não se deu conta que permeia seus caminhos o peso leve da sensualidade.

Olhando postais antigos observei damas com seus olhares esfuziantes enquanto longas vestes cobriam-lhe os corpos. Por mais que uma época tentasse encobrir tal naturalidade concedendo-lhe o chavão do pecado o erotismo sobreviveu a sua forma. Ou seja, o instinto não foi escondido.

O desejo, forte componente desse assunto é parceiro dos olhos, das mãos, dos pés por debaixo das mesas, da liberdade de corpos que se encontram em acasalamento e captam cada suave vibração dentro das mais variadas sensações.

O homem relaxa após o sexo e logo se sente revitalizado para encarar tarefas costumeiras com mais ânimo. A mulher, animal carente, amada se desdobra em amor e exala determinação, garra, empenho. Sexo é carta de apresentação para quem está saudável e não bandeira do desespero.

A Literatura erótica, a meu ver, tem a finalidade de acordar o homem para os sentidos. Durante séculos ela esteve presente na música, nas danças, nas trocas de véus, nos objetos, pintura e palavras. Há tanto erotismo em Ulisses e Penélope como no casal que jura em altares ou não um amor capaz de redimir a si próprio.

Um passo para a salvação do homem reside na redenção de seu olhar interior em junção ao seu poder de sedução, esteja este representado através da poesia, música, dança, teatro, pintura, cultura, contra-cultura ou o diabo a quatro.

É observável que material escrito causa mais espanto do que cenas tórridas e, isto passa a ser lamentável, pois assim estamos a olhar para o presente/futuro como se fossemos voyers do passado a depender do olhar pelo buraco da fechadura. Parte do povo que habita o planeta terra ainda usa de muletas para apoiar seus olhares avante.

O alvo neste ponto é o sentir e, se um objetivo há em mente, este seria o de acordar o público para o desejo do outro que é tão parecido com o seu desejo. Talvez um pensamento coletivo no estardalhaço de zilhões de meteoros a multiplicar inteligências e revelar ao homem a sua essência entre tantas buscas por respostas que dormem no silêncio da vergonha e do medo.

A mocinha de família escreve poemas eróticos, o mocinho filhinho do papai escreve contos eróticos e a sociedade passa a tachá-los como aberrações nos salões, café e botequins do interior. A mentalidade penalizada, grampeada por conceitos antiquados não consegue seguir o passo evolutivo do conhecer-se! Gemem entre paredes e se escondem diante dos assuntos postos em pauta para a compreensão do indivíduo. Bomba! É isso o que iremos chamar de futuro? Um povo que tem medo do próprio corpo/prazer como se estivesse anos atrasados no espaço/tempo?

Há de se convir que uma maioria oculta suas revistas Playboy a sete chaves dos pais, até então considerados modernos – os mesmos que se engatilham em olhares, toques e desejos com outras Marias e Joãos. Prevalece a enganação embutida em uma áurea que definem como sendo por razão da ordem.

Espera aí! Mas que ordem é essa? Em nome de quem matar é correto? Em prol da vida, roubar é lei? Trapacear nos gabinetes é moda? Francamente perdem tempo com as mãos cheias de pedras

Precisamos discernimento para escolher a vida que mais nos satisfaz e em minha humilde visão creio que o homem precisa com uma certa urgência aprender a lidar com os seus sentimentos e com o que um texto ou uma imagem cause nos mesmos. Trabalhar a sensualidade dentro do erotismo é figura viva a gritar por liberdade. É dada ao homem uma escolha.

O nu em diferentes formas possui diversas interpretações e esconde muitos sinais. O corpo em si é igual, dono das sensações independente da forma. Tenho lido algumas matérias que tratam sobre esse assunto e continuo cada vez mais interessada no tema. É como se ao aprofundá-lo fosse possível enxergar o medo humano de expor a sua sensibilidade.

Quem não admira o belo? E o belo não é um padrão estabelecido. Joana enxerga a pinta de Carlos como maravilhosa. Carolina gosta das pernas de Márcio. Ei, não estamos a pensar em padrões, estamos? Que tal pensarmos apenas em nós e em nossas preferências como abertura para a compreensão de nossos desejos? Por que não sexo? Ops! Não apague a luz. Estamos começando. Quem não gosta? Só o medo, a desinformação, a falta de equilíbrio com o próprio corpo/mente e o falso moralismo é capaz de causar a destruição do homem, não a liberdade de conhecer-se.

Nossa! Parece que sou imoral por ter coragem de falar sobre (é o que dirão muitos ao fazer essa leitura). Ei, amadureça. Sou apenas desbocada consciente e falo o que sinto e da maneira que sinto, na idéia de que minha contribuição para o crescimento seja válida. Então que me desculpem os puritanos, mas a voz tem que sair. Naturalidade também é expressão.

Brincadeiras e carapuças à parte, ao me referir ao tema erotismo o que eu quero é que prevaleça a clareza e a compreensão de que a vida pulsa e, prender Eros, é cooperar para que o mundo caía em desgraça. O homem só pode entender o que é ser livre quando não é cadeia de suas raízes e sim parcela de tudo o que vivencia.

Por outro lado, se é certo que somos seres alinhados a uma ordem, é louvável reconhecer que construímos a estrutura de nossos dias e eu gostaria de deixar claro que ao ficar tão próxima do leitor, à intenção é a de dialogar com os seus segredos e assim provocar a menor reflexão que seja, mas que o leve a analisar a natureza de seus atos e desejos, desencadeando assim um bem-estar que o faça sentir-se responsável pela libertação das gerações vindouras. Afinal, damos continuidade ao que denominamos futuro.

Bicho de sete cabeças não é o erotismo e sim o fantasma que ronda a mente daqueles que se esqueceram de ler Cântico dos Cânticos de Salomão ou perderam o fio do tempo…

Eliane Alcântara.

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