Crônica. Verde, amarelo, azul e branco…

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cantinho_poeticoNão sou cronista, nem sei sê-lo, somente interessa-me essa ideia que não sei qual é. Quando estamos na chuva é para molhar e que a chuva venha em tempestade abotoando essas margens que aguardam o que vem.
Deu essa vontade maluca de escrever qualquer coisa e todo maluco tem umas vontades estranhas quando bate a normalidade. Esse estímulo é coceira… Começou? Vamos embora… Não sei onde fica o pólo norte e nem se o presidente hoje está de cueca cinza ou colorida. E daí? De cuecas, as estrelas e a liberdade ainda clamam! Idade média da evolução e os braços cruzados na janela televisiva.
Fale mais alto seu moço, que eu vi piadas fora da tela quando aquele homem mendigava o preço do arroz, contando as notas do mês. E a feira? Tem taioba e falta o fubá, tem mandioca e o torresmo está fininho porque faltou o milho na granja.Tem olhos lindos, do jeito que eu admiro.
Olhos grandes e esbugalhados… Mas não são naturais.
Que pena! São olhos vítimas da fome em um país que ‘adubando dá’. Dá ele dá; e como esse país dá. Dá muito nos bolsos de alguns… Lá-lá-lá-lá… E eu que nasci assim no quarto da lu-lu-lu-lu… LUA, e estou ficando gaga. É que preciso de um banho quente, onde o frio da rua é mais doído que aquele de encarar a cara feliz da parteira por segurar mais um disforme que terá que driblar o futuro.
Grita pequeno, que a sobrevivência está no ânimo que seus pais tiveram para burlar a campanha da camisinha.
Grita aí vencedor! Vai ter que gritar mais forte para ser ouvido nesse país livre!
Hoje gritei que meu trocado ia virar ouro.
– Você bebeu demais – insistiu o dono do boteco enchendo meu copo.
– Não duvida, olha que eu faço milagre…
– Traz a conta que ela deve estar drogada e daqui a pouco a polícia baixa aqui!
– Almoça lá em casa e continuamos. Hoje você concorda comigo.
Almoço cheirando longe… A vizinha assustada pensando onde eu arranquei amarelinhas para o banquete…
– Vamos lá João. Vou vendar seus olhos para o almoço.
Ele comeu e repetiu. Pedi que retirassem os pratos e as panelas.
– Você conseguiu! Que almoço! Agora não vai poder comer o resto do mês…
– Vou sim… E cada vez melhor…
– Você está roubando?
-Não! Até parece que não me conhece mais. Estou dando um jeitinho, brasileiro é bom nisso.
-E por que hasteou uma bandeira do Brasil dentro de casa?
-Ah! Pensei que não fosse notar… É para minha mesa estar sempre farta. Vamos comer o Brasil!
-??? Comer o Brasil?
– Claro! Cru, cozido, assado… Olha aí na bandeira nossa riqueza…
-O que eu comi hoje? Você está amalucada!
-Hoje você comeu o amarelo! Ouro! Abóbora ensopada com frango caipira, que o Luís vende a preço de banana já que não valorizam o nosso produto. Suco de abacaxi, cenoura cozida a vapor, com banana-frita e doce de laranja… Amanhã vamos comer o verde: Couve, taioba,
jiló… E depois o branco: mandioca, inhame… Projeto que vai dar certo com esse salário de fome!
– Ah! Isso não vai dar certo… Quero ver você botar comida azul em sua mesa…
– Calma… Quando terminarmos de comer o que tem sobrado do Brasil, nós vamos comer o tempo olhando para o azul do céu e do mar até nos civilizarmos… Quando
Cabral descobriu o Brasil os índios comiam no tempo as riquezas da terra e promoviam grandes banquetes… O negócio é indigienizar o Brasil meu caro… O negócio é
voltar as raízes. A dica está aí na cara, nas cores da bandeira, enquanto ainda deixam esse tempo azul para comermos… Aqui, as cores não têm fim.
•Indigienizar = Promover uma higiene à moda indígena.
(Acabei de burlar o Portuguêsssssss. E vamos arregaçando as mangas… Amarelas!:).

1 COMENTÁRIO

  1. Olá… Eliane Alcântara. Li seu texto antes de dormir… Na verdade, fiquei 5 minutos pensando, diante a tela do computador, se eu deveria ler seu texto ou ir log dormir — isso porque era bem tarde, eu estava exausto, etc..etc.. Fiz a coisa mais sábia: li o texto! Gostei muito. Muito inteligente. Vou até mostrar para uns amigos meus… Um abraço e bom trabalho.

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