As pedras que a vida me atirou

286

Disse-me certa vez um homem de certa idade “não as devolvi com mais força como muitos teriam feito e nem mesmo as deixei espalhadas pelo caminho, para evitar que me fossem jogadas uma segunda vez. Guardei todas na algibeira. O gozado é que nunca pesaram em meus ombros e de vez em quando as olhava para buscar um meu segredo e delas tirar alguma lição que precisasse naquele momento”. Muitos as viram me chegar e mesmo dizendo me serem injustas, ninguém teve coragem de colocar uma mão para impedi-las. Quando muito, olhavam disfarçadamente para ver se haviam deixado alguma cicatriz, como se contentes em amanhã ou depois poder dizer que sabia de onde ficara ou quem causara aquela marca. Na verdade, continuou ele, tenho certeza de que hoje poucos delas se lembram, ou até mesmo de mim sabem dizer. Ainda hoje as pedras me saltam, quando posso as aparo e senão as arrecado depois, e as “algiberio” também. Ainda tenho a opinião de que de nada valeria jogá-las de volta, até porque minha pontaria poderia ser pior que a dos outros e machucaria inocentes. Quanto àqueles que as jogaram, bem… Não se trata de perdoar, mas quem sabe só de desculpar, por que afinal de contas, nem sabem, mas acabei tirando vantagem delas. Perguntei então a ele o que pretendia fazer com todas aquelas pedras que vinha juntando ao logo do caminho de sua vida, e ele me disse que “Pretendia não! Já estou fazendo!” E diante de meu olhar curioso, respondeu. “Construindo meu castelo! Porque cada uma delas, representa uma vitória da minha única e real verdade! E como me foram jogadas pela mentira, sou o rei!

Antonio Jorge Rettenmaier,  Escritor, Cronista e Palestrante. Visite nosso blog em www.ajorgespaceblog.com.br e mande seus comentários para [email protected]. Esta coluna está em mais de oitenta jornais no Brasil e Exterior

FAÇA UM COMENTÁRIO

Por favor digite um comentário
Por favor digite seu nome aqui