Cocô de passarinho

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Por Luiz Carlos Amorim – Escritor – Http://luizcarlosamorim.blogspot.com

Dia destes falei de barulhos que incomodam a gente. Hoje, verificando uma parede externa da minha casa, recém pintada, lembrei-me daquela crônica. Reclamei de sons acima do permitido que a gente tem que suportar, por falta de respeito do próximo, então me ocorreu falar de sons agradáveis, que a gente ainda tem o privilégio de ouvir.

É que a referida parede estava com uma mancha enorme de cocô de passarinho. À primeira vista, a gente tende a se incomodar, pois a parede estava impecável, a tinta ainda cheirando de fresca, mas cá pra nós, e o benefício que a passarinhada trás para nós, seres humanos estressados que vivem na cidade?

Pensei na cantoria da passarada, o dia inteiro, compensando o som de música nas alturas da vizinhança, barulho de fábrica de um lado, barulho de fábrica do outro, um vizinho berrando na casa ao lado.

É uma beleza acordar com a passarinhada cantando, sentar-me aqui para escrever a minha crônica diária ouvindo a cantoria de bem-te-vis, sabiás e outros amigos alados dos quais nem sei o nome. Eu até esqueço das buzinadas insistentes da redondeza e outros tantos barulhos. A palavra flui mais suave, vem fácil, parece que a inspiração aflora com o canto da natureza.

Então não me aborreço com o cocô dos passarinhos na minha parede, no muro da frente – eles ficam na grade de ferro em cima do muro, pois eu jogo sementes velhas e farelo de pão no jardim, que eles vêm comer – pego um pano e vou limpar e passo tinta de novo.

E digo que podem fazer cocô à vontade, contanto que venham cantar na minha calha, no meu jardim, no meu telhado, na minha porta. São bem-vindos. Sempre. Que não deixem de trazer a alegria de viver a minha casa, que tragam a natureza, nas suas asas e no seu canto, para o meu minúsculo jardim de cidade grande. Quisera ter árvores pejadas de frutos para recepcioná-los, mas minha casa da cidade não tem espaço para elas. Fico devendo os galhos floridos e as frutas amadurecendo e só posso oferecer as flores do pequeno jardim e as frutas compradas no supermercado. Mas é de coração. 

Sobre o autor: Luiz Carlos Amorim é Coordenador do Grupo Literário A ILHA em SC, com 30 anos de atividades e editor das Edições A ILHA, que publicam as revistas Suplemento LIterário A ILHA e Mirandum (Confraria de Quintana), além de mais de 50 livros. Editor de conteúdo do portal PROSA, POESIA & CIA. e autor de 26 livros de crônicas, contos e poemas, três deles publicados no exterior. Colaborador de revistas e jornais no Brasil e exterior – tem trabalhos publicados na Índia, Rússia, Grécia, Estados Unidos, Portugal, Espanha, Cuba, Argentina, Uruguai, Inglaterra, Espanha, Itália, Cabo Verde e outros, e obras traduzidas para o inglês, espanhol, bengalês, grego, russo, italiano -, além de colaborar com vários portais de informação e cultura na Internet, como Rio Total, Telescópio, Cronópios, Alla de Cuervo, Usina de Letras, etc.

O autor assina, também, o Blog CRONICA DO DIA, em Http://luizcarlosamorim.blogspot.com

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