Armando Correa de Siqueira Neto*
Dissimular significa: encobrir, disfarçar, não revelar os sentimentos. Quando ocultamos o que sentimos aos outros, na tentativa de expressar coisa diferente, dissimulamos. Enganamos a fim de atender algum desejo íntimo, seja por não transparecer um aborrecimento, seja pelo interesse em obter certos favores, por exemplo. O fato, contudo, é que não admitimos em nós tal artimanha. Não com esse nome. Assim o fazemos com os outros, pois a eles é fácil imputar o pesado e funesto termo. Sentimo-nos mal em detectar a dissimulação em nós mesmos. Dói. É um ato mentiroso e causa culpa. Incomoda pra valer! Assim, sem a devida percepção, nos autoenganamos, convencendo-nos de que quando dissimulamos, recorremos apenas à prática da simpatia. Sob esta perspectiva, tudo fica diferente. É aceitável socialmente. A sua prática é comum. Persuadimo-nos de que se trata tão somente da simpatia com a qual estimulamos o próximo a ceder frente à eventual inflexibilidade.
O que é inadequado ao comportamento alheio, passa a ser admissível em si mesmo – com as devidas distorções geradas pelo autoengano. Tudo se adapta melhor, encaixa-se o círculo no quadrado em benefício próprio e o bem-estar se sobrepõe a qualquer aflição que ousou se manifestar em algum momento. Em razão das necessidades pessoais, somos capazes de disfarçar o tom de voz a fim de conseguir o que queremos. Comumente podemos ser secos, indiferentes ou até respondões com as pessoas, conhecidas ou não. No entanto, ao menor sinal de uma “dor de barriga”, rapidamente mudamos o jeito de ser, disfarçando (perdão, sendo simpático) qualquer aspecto que venha a prejudicar o favor em mira, que poderá ser retribuído oportunamente (só Deus sabe!). Transformamo-nos rápida e convenientemente, da cara fechada ao sorriso, das poucas palavras ao intenso bate-papo, do desprezo à bajulação, da má vontade de se saudar com um breve aceno ao abraço apertado e cheio de esfregões nas costas, da falta de cortesia ao rapapé desmedido, enfim, da água ao vinho, ou ao que for necessário conforme o ritmo estabelecido pela música da conveniência. Dissimulação simpática?
Porquanto, se analisarmos profundamente, com a seriedade de quem se permite alcançar a verdade mais íntima, veremos claramente quão enganadores nós somos quando pretendemos atingir os nossos objetivos. Porém, vale destacar que não se faz tal reflexão sem que se compreenda a sua importante finalidade, o autoconhecimento. Quanto mais nos conhecemos (desconhecemo-nos muito!), tanto melhor se torna a compreensão de que não é fundamental agir teatralmente nas relações sociais, e que, ao contrário do que se crê, as pessoas admiram aquele que possui um bem que nelas lhes falta, embora, a princípio, elas possam até se desagradar pelo incômodo existente nos fatos desprovidos de maquiagem. Mais: é valoroso perceber em si mesmo uma personalidade marcada pela honestidade. Lembremo-nos: o respeito e a consideração que tanto buscamos não estão na superfície das águas escuras da convivência humana, mas nas profundezas do convívio mais natural e transparente.
*Armando Correa de Siqueira Neto é psicólogo (CRP 06/69637), palestrante, professor e mestre em Liderança. Coautor dos livros Gigantes da Motivação, Gigantes da Liderança e Educação 2006. E-mail: [email protected]
Que bom ler isto, logo ao começar 2010. Confesso que nos últimos tempos venho me esquecendo desta sinceridade, que sempre julguei tão importante… me adaptando e aderindo ma esta “simulação simpática”
Terrível, mas verdadeiro. Obrigada mestre!!!
Confesso que esse texto me fez pensar muito. Como sou uma pessoa dissimulada! E como ver esse defeito nas outras pessoas é terrivelmente pior! E como dizem: ”Nossos defeitos nos outros são muito mais feios”. É a mais pura verdade! Não admito ao meu redor pessoas fingidas, que tentam ser oq não são, tentam oprimir seus sentimentos para aparentarem mais fortes, mais seguros, indiferentes, superiores. No fundo se acham um ”nada” mas maquiam aquele sentimento para serem vistos de uma maneira ”melhor”. Costumo dizer que adoro pessoas loucas, que em outra vida devo ter sido psiquiátra. Mas na verdade oq adoro é a pureza, a transparência de algumas pessoas que mostram oq realmente são. E ás vezes são mal vistas, criam inimizades. Essas pessoas eu tendo a admirar? Por que? Porque são pessoas únicas, diferentes da maioria de nós, que tenta ser oq não é para conquistar seus desejos fúteis, mascaram sua inveja e egoísmo, o quão feias são no seu interior! Mas como mostrar esses sentimentos? Oq seria de mim se meus pensamentos pudessem ser lidos? Não teria amigos, trabalho, nào teria nada! Tudo que construí é uma farsa, que vou mantendo enquanto estiver conveniente. A sociedade também ajuda a nos tornar mais dissimulados ao meu ver. Ela dita tantas regras, que nos perdemos de níos mesmos. Difícil saber o que eu gosto, oq desejo, oq admiro, oq sou. Nos baseamos por modelos ”bonitos” de felicidade. Mas oq queremos para nós de verdade? Como descobrir? Sendo mais sinceros com as pessoas? Mais diretos? E se eu magoar alguém com mias verdades? E se eu confessar pro meu namorado que eu vivo achando que ele me sacaneia. Será que vou me sentir mais leve? Finjo que não estou nem aí, converso com homens na academia, crio amizades com eles apenas para fazer cíumes. Mas meu namoradoa acha que eus sou ”super cool”, que os homens me adoram, e são todos afim de mim! Será que ele acha msm? Ou ele sabe o quão dissimulada eu sou e ri da minha cara? Se eu agisse como eu mesma, atendendo meus desejos, ninguém me ligaria porque não tenho paciência para homens que só querem transar com você, eu seria invisível, ligaria váris vezes pro meu namorado pra saber oq ele está fazendo, perguntaria mil vezes se ele me amava, se nunca iria me trocar, se ele me acha bonita. Pediria um elogio todos os dias! Como eu me vestiria? Sempre penso no que agradaria a ele? E a mim? Ás vezes me perco, não consigo ter estilo próprio, preforo roupas de marcas caras pq sei que é mais difícil de errar! Mas oq realmente eu acho legal? Nossa, eu não sei mais quem eu sou. Muitos anos construindo um outro eu. Dificil começar……….