Complexidade do processo atual de expansão das metrópoles

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Vista aérea da cidade de Belo Horizonte

Pesquisa revela complexidade do processo atual de expansão das metrópoles.  Nos anos 50, muitos foram os cidadãos que, residentes numa Belo Horizonte em pleno desenvolvimento urbano e industrial, resolveram mudar radicalmente de vida. Tais homens e mulheres optaram por trocar a confusão da cidade grande pelas benesses do convívio com a natureza. Assim nasce, no eixo sul da Região Metropolitana de Belo Horizonte, uma série de loteamentos que, pouco a pouco, passam a abrigar casas aconchegantes e confortáveis, típicas do interior de Minas Gerais. Em meio ao verde, as moradias foram construídas. Por isso, talvez, seus donos jamais acreditassem no fato de que, décadas mais tarde, aquela bucólica paisagem seria substituída por condomínios fechados, repletos de muros e permanentemente vigiados por equipes especializadas em segurança. Para além da revelação de hábitos típicos da sociedade moderna, contudo, o estudo do complexo desenvolvimento das regiões metropolitanas de grandes centros urbanos – a exemplo das modificações no eixo sul da capital mineira – é capaz de trazer à tona conhecimento importante sobre a diversidade da ocupação do espaço público. No caso de Belo Horizonte, basta recorrer à Rosa dos Ventos para que a multiplicidade de tal processo revele-se ao observador. Na direção oeste – rumo a Contagem e Betim –, o município segue o ritmo da industrialização; já no eixo norte – da Pampulha para frente – há maciço investimento público, expresso, por exemplo, na construção de conjuntos habitacionais. “Por fim, na região sul, percebemos especificidades como moradias da população de alta renda, áreas com loteamentos fechados ou associadas à preservação ambiental e ampla presença de mineradoras, donas de parte importante das terras”, explica a professora do Departamento de Geografia do Instituto de Geociências (IGC) da UFMG, Heloisa Soares de Moura Costa. De 2004 a 2006, Heloisa Soares e pesquisadores de outros três departamentos da UFMG – além de estudantes bolsistas – lançaram-se à investigação de nuances do processo de crescimento da capital mineira. Com ênfase, justamente, no eixo sul da expansão metropolitana, o estudo multidisciplinar, que contou com investimento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), do CNPq e da Pró-Reitoria de Pesquisa da UFMG, rendeu, e ainda rende, debates e produtos ricos em constatações sobre a ampliação do município, a exemplo do livro “Novas periferias metropolitanas – a expansão metropolitana em Belo Horizonte”, lançado em 2006. Além de surpreendentes, os dados estatísticos e qualitativos do trabalho servem, hoje, de auxílio à criação de políticas públicas. “O desenvolvimento urbano de BH é muito interessante. Afinal, a cidade cresce industrialmente em direção a Contagem, depende da água de Nova Lima e registra uma série de investimentos públicos para além do próprio município”, explica Heloisa Soares. No eixo sul, área marcada pela diversidade, os pesquisadores perceberam que uma série de fatores – entre os quais a forte gestão do território por mineradoras e a presença de reservas ambientais – impede o processo de parcelamento do solo. Tal conclusão, porém, refere-se apenas a uma parte dos mistérios investigados. Ao longo do estudo, dezenas de outras indagações mostraram-se seminais à compreensão das peculiaridades da mobilidade urbana na região: por que, por exemplo, os municípios modificam seus zoneamentos de modo a favorecer a atividade imobiliária? Quais impactos do crescimento para o transporte público? De que instrumentos o poder governamental usufrui para dividir, com pessoas físicas e jurídicas, as responsabilidades inerentes ao processo de desenvolvimento? Quais os novos valores associados à moradia e outros elementos da reprodução social? Como se dá a valoração e apropriação da natureza? Que alternativas apresentam-se às cidades em termos econômicos, independentemente dos rumos da industrialização tradicional?

Fases do ouro

Muitas das respostas às questões formuladas pelos pesquisadores vieram de acuradas observações e análises em torno dos três principais atores da expansão no eixo sul: mineração, uso urbano do solo e áreas de preservação ambiental e recursos hídricos. No que se refere ao papel das mineradoras e seu influente sistema gestor, pode-se, metaforicamente, fazer alusão a ciclos extrativos de três tipos de riqueza aurífera na região. Se, no século XVII, buscava-se o ouro de aluvião, tal atividade seria substituída, cerca de 100 anos depois, pela instalação de minas exploratórias do nobre metal. Hoje, ao contrário, a riqueza revela-se inteiramente à flor da terra. “O terceiro ouro são os empreendimentos mobiliários”, explica Heloisa Soares.Afinal, na atualidade, iniciativas como a do empreendimento Vale dos Cristais revelam que as mineradoras, para além de sua atividade final, desempenham o papel de incorporadoras, tornando-se responsáveis por todas as etapas do processo imobiliário, da demarcação dos lotes à venda das propriedades. “Essa nova realidade pode produzir grandes impactos”, afirma a pesquisadora, ao lembrar, ainda, que, no eixo sul, diferentemente de outras vertentes do desenvolvimento urbano da capital mineira, a concentração de terrenos nas mãos de poucos – principalmente de empresas – não estimula a chamada ocupação espontânea.

 

Agência Minas

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