Deve-se dar esmola?

278

Para quem ama a Deus e deseja seguir os ensinamentos cristãos, as vezes se sentem em uma encruzilhada, dar ou não dar o dinheiro, mesmo quando o pedinte se apresenta com sinais de embriaguez.

Outro dia presenciei uma cena dentro de um restaurante, onde um homem entrou e mesmo sendo orientado que ali não podia permanecer pedindo, ele foi na fila e começou a pedir um e outro, dizendo que precisava comprar comida, umas três pessoas deram dinheiro, um outro que estava na fila disse: aí cara, você já tem o suficiente para comprar a comida, mas ele não comprou a comida e de posse do dinheiro foi embora. “Eu fiz minha obrigação de ajudar meu semelhante, agora o que ele vai fazer com o dinheiro não é problema meu” disse o senhor.

Em uma roda de amigos este assunto surgiu: deve-se ou não dar esmola? Aqui onde moramos o número de famílias desempregadas e sem-teto é bastante e fica difícil não lamentar tanta miséria, principalmente diante das crianças. Mas também sabemos que muitos adultos, que às vezes se fingem de pais, obrigam os meninos a pedir ou vender balas, ficam com o dinheiro, gastam em bebidas e quase nada dão a elas. Em outros casos, o dinheiro dado pelas nossas consciências culpadas é tal – sabemos pelas muitas reportagens que existem sobre o assunto que dizem que meninos de rua chegam a ganhar mais que R$ 30 por dia, o que dá um “salário” mensal maior que alguns professores ganham por aí, diante disso você acha que estas pessoas sairá dessa com facilidade?

Claro que fica difícil oferecer outra forma de vida a essas pessoas, que não é à toa que elas não querem trocar a rua por abrigos e acabam gerando mais filhos para ter mais chances de ganhar esmola. Há também os que fazem malabarismos ou vendem balas, logo a esmola seria uma espécie de retribuição ao seu esforço, ao fato de que – aparentemente – não optaram pelo crime, ainda que os produtos sejam em geral piratas e o comércio de rua prejudique a loja ao lado que paga seus impostos ou até o camelô que é cadastrado pela prefeitura. Outra opinião é a de que se deve dar comida em vez de dinheiro, e por isso vemos tantas famílias às portas dos supermercados.

Mesmo assim não estamos ajudando a perpetuar a situação? Enquanto isso, o poder público se exime de fazer sua parte. O que você acha? A verdade é que a malandragem se aperfeiçoa a cada dia, ninguém está livre de cair em um golpe.

Outro dia dentro do supermercado Coelho Diniz fui abordado por uma senhora que disse que seu marido estava de cama e ela necessitava de uma sacola de açúcar e um pacote de pó de café, colocamos em nosso carrinho e entregamos para ela depois de passar no caixa. Nosso carro estava estacionado perto da matriz, e percebemos que a senhora ao pegar as mercadorias, não foi embora, sem sair do pátio do supermercado ela se encontrou com um homem que estava com um carrinho, não dei muita ideia, e não sei se ela abordou mais pessoas dentro do estabelecimento para pedir. Penso que devemos ajudar as pessoas, mas não nesse caso em que nós não conhecemos, mas as vezes somos pegos de surpresa e aí que mora o perigo.

Um belo dia embarquei em um trem de São Paulo para Ribeirão Pires, em um vagão com mais de 150 pessoas, entrou um cidadão, bem articulado, fez um discurso de posse de sua carteira profissional que ele dizia casado e pai de 4 filhos e que a um mês estava desempregado, mas que mesmo morrendo de vergonha estava ali pedindo para matar a fome de sua mulher e os filhos, o argumento dele falou fundo aos corações das pessoas e mais de 50 pessoas contribuíram com ele, na próxima estação ele desembarca do vagão e entra em outro para fazer o mesmo discurso.

Não sei da situação daquele moço, isso aconteceu há mais de 20 anos, hoje as pessoas estão tão cansado das trapaças que hoje mesmo inovando no discurso, a coleta não seria muito farta. Eu pergunto se este moço desempregado arrecadou duas ou três vezes mais que seu salário, você acha que ele foi procurar serviço, ou continuou na mendicância? Manhuaçu tem aumentado o número de pessoas nas ruas a pedir.

Sabemos que existem muitas pessoas que decidiram não trabalharem, eu conheço uma pessoa em Manhuaçu que nunca trabalhou, foi criado com mais três irmãos, segundo seus irmãos desde pequeno ele nunca trabalhou, sempre viveu as custas dos seus familiares, hoje todos casados, seus pais faleceram e ele virou homem de rua. Alguns acham que isso é um problema do poder público e outros dizem que o poder público se exime de fazer a sua parte, o que muitos concordam.

O problema é muito mais complexo do que imaginamos. Algumas autoridades civis e religiosas acham que a esmola vicia e a pessoa acostuma e não quer trabalhar, ao paço que se ninguém desse, aí o pedinte teria que trabalhar. “Quem sou eu para decidir que a comida é melhor que o dinheiro? Que o abrigo da prefeitura é melhor que a calçada? Que o pedinte será mais feliz assim, ou de outra maneira? Acho que esse é o ponto. O “bem”, nesse caso, é ambíguo. Se dou a esmola, dei e ponto final. O fim que vai levar aquele dinheiro deixou de ser, literalmente, da minha conta”. Diz um cidadão.

Veja mais sobre o assunto na página 5 da edição 245 do Jornal das Montanhas

Fale com a redação [email protected] – (33)3331-8409

FAÇA UM COMENTÁRIO

Por favor digite um comentário
Por favor digite seu nome aqui