País sem leitura

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Que o índice de leitura no Brasil é insignificante não constitui nenhuma novidade. O que chama a atenção é que pelo andar da carruagem essa realidade poderá demorar muito tempo para ser modificada. Na realidade, serão necessários 260 anos para alcançar o nível educacional de países desenvolvidos. Essa estimativa bem distante de ser atingida é do Banco Mundial e foi feita com base no desempenho dos estudantes brasileiros. A avaliação internacional aplicada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento, ligada à Organização das Nações Unidas, que identificou, também, que a defasagem brasileira em matemática é de 75 anos.

Pode parecer estranho um relatório dessa envergadura sobre educação vir de uma instituição especializada em questões financeiras. Entretanto, o Banco Mundial entende que o desenvolvimento econômico de uma nação passa necessariamente pelo viés da formação e qualificação das pessoas que habitam uma cidade, um estado e um país. Por outro lado, a conclusão mais significativa do estudo é que existe de fato uma crise de aprendizagem, não só no Brasil, mas em todo o mundo. No último levantamento, porém, o País não aumentou sua nota em leitura e caiu em Matemática.

Procurado pela reportagem, o Ministério da Educação não quis comentar o conteúdo do relatório.

Não dá para deixar de considerar que nas últimas três décadas aconteceram grandes progressos, que resultaram na colocação de muitas crianças nas escolas na maioria dos países, mas infelizmente, esse crescimento em quantidade não deu nenhum passo em qualidade, uma vez que, na maioria das vezes, elas não entendem o que leem ou não sabem fazer contas. Esse levantamento revela que 125 milhões de crianças no mundo estão nessa situação. Na América Latina e Caribe, apenas cerca de 40% das crianças nos anos finais do ensino fundamental chegam ao nível considerado mínimo de proficiência em matemática, enquanto na Europa e Ásia são 80%. Na África, só 10% dos alunos têm níveis aceitáveis de leitura.

Ao traçar um panorama da educação em todo o mundo, os responsáveis pelo estudo mostram não apenas as deficiências evidentes, mas também, os casos de sucesso de vários países. Nesse sentido, a Coreia do Sul e, mais recentemente, o Peru e o Vietnã são países citados como alguns dos que conseguiram avançar com reformas e novas políticas para o setor. Entre as sugestões de iniciativas para tentar reverter o quadro principalmente nos países em desenvolvimento, estão a valorização do professor, a avaliação dos sistemas, a melhor gestão das escolas e o investimento em educação infantil. Essas possíveis soluções, na realidade não representam a invenção da roda, considerando que esses mesmos aspectos já foram amplamente discutidos. Entretanto, quando as observações são feitas por uma instituição do peso do Banco Mundial, o velho soa como se fosse novo.

Na concepção de alguns analistas brasileiros que acompanharam o estudo do Banco Mundial, o cenário negativo que pode perdurar quase três séculos, não é imutável, ou seja, pode muito bem ser alterados, desde que os personagens que fazem parte do setor educacional sejam eficazes. Além disso, os agentes públicos precisam dar sua contribuição, propondo caminhos alternativos. Mas para que essas mudanças positivas e significativas aconteçam, o Brasil necessita, em caráter de urgência, de um plano estratégico de educação, que seja capaz de promover a flexibilização do currículo e a diminuição do número de disciplinas, de modo que possa tornar a escola mais atrativa para os jovens. Todavia, essas alternativas de mudanças precisam ser mais sólidas e mais duradouras, que não corram o risco de perder a validade da noite para o dia, como vem acontecendo nos últimos anos.

Diante da frieza dos números, torna-se imprescindível que mente humana seja construída com bons conteúdos. E para que a base seja bem estruturada, como diz o filósofo inglês Francis Bacon, os livros têm grande importância em nossas vidas não só porque auxiliam na construção de nosso conhecimento, mas também porque nos trazem palavras de encanto, doçura e suavidade.

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