Florianópolis, a Ilha da Magia e seus muitos encantos

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Entre o mar e a montanha, igrejinha de 1806 integra o conjunto arquitetônico da aprazível praça de Ribeirão_480x593

Alguns lugares se tem que ir várias vezes para saber que pouco, ou muito pouco, se sabe e se conhece deles. Um desses lugares é Florianópolis, a ilha carinhosamente chamada de Ilha da Magia. Em mais de 12 anos de freqüência, ainda estou conhecendo e me surpreendendo com esse pedacinho de terra, como diz seu hino, abençoado por Deus.

Paralela a toda badalação dos pontos turísticos consagrados e freqüentados de Floripa, o extremo Sul da Ilha permanece serenamente calado, com sua vida simples em estado permanente de contemplação, como se as coisas do outro mundo ficassem fora da paisagem.

Sem grandes pousadas, restaurantes e agitos, a Ilha da Magia separou sua melhor parte para aqueles viajantes mais descuidados, que estão em busca de paz, belezas e muita tranqüilidade. Assim é o Sul da Ilha, com sua natureza pujante, sua gente hospitaleira e uma maneira diferente de ver o mundo, de apreciar a vida. Aqui se tem a nítida sensação de se estar no interior de Minas, distante de uma capital turística como é Florianópolis, com suas 42 praias e milhares de turistas. Tudo isso, a 30km do centro de Floripa.

Ambiente perfeito para casais ou para quem quer mesmo sossego e uma boa comida, o Sul da Ilha se divide basicamente nos distritos de Freguesia do Ribeirão da Ilha, entre o litoral e o continente e Pântano do Sul, do lado do Atlântico, com povoados ao longo da faixa litorânea, sempre com muitos atrativos ao seu redor.

Decorações simples e de bom gosto marcam os restaurantes em Ribeirão da Ilha_640x480

Parece que o tempo não passouPara se ter uma idéia de como é a vida no sul da capital de Florianópolis, recordo a história contada pela professora do ensino fundamental Analu Lupércio, que revela que todos os dias, suas aulas na escola do povoado de Caieras, têm o intervalo marcado pela hora em que passa o padeiro, quando os alunos vão até a rua comprar o seu lanche do dia. Cena essa impensada em uma grande capital, badalada mundialmente. Isso reflete o cotidiano do lugar, com seu pouco comércio e sua insuficiente infra-estrutura. O turismo ali fica mesmo como opcional para o visitante da Ilha, como alguém que quer passar uma tarde comendo frutos do mar à beira da praia ou aproveitando os passeios pré-marcados. Há que se destacar que são muitos.

Repara-se que muitos dos restaurantes são de famílias de pescadores, que levam para a cozinha as receitas caseiras, sem fugir muito do cardápio tradicional da Ilha, com seus muitos peixes e diversificados frutos do mar.

Naturais da região sul de Florianópolis, as manezinhas da ilha, como são chamados os nativos do lugar, as irmãs Giovana e Francielli Schuelter dizem que por “motivo de trabalho, como muita gente que nasceu aqui, moramos na área central da Ilha, mas sempre voltamos para cá para descansar e curtir a natureza ao redor”. Elas dizem ainda que os restaurantes “são ótimos e como nunca estão cheios como em outras regiões de Florianópolis, podemos almoçar em paz, aproveitando a tradicional culinária da região. Hoje o Sul da Ilha ficou uma área que é mais dormitório, em que as pessoas que trabalham no centro e no continente vão e voltam todos os dias. Isso gera muitos engarrafamentos. O bom é poder morar e trabalhar aqui”, destacam as irmãs de ascendência alemã, como são muitos em Santa Catarina.

História

Praia de Naufragados

Aqui começou o povoamento da Ilha, como revela a tradição açoriana preservada nas fachadas das casas e casarões de seus primeiros habitantes. Fundada em 1760, a Freguesia do Ribeirão da Ilha traz sua aprazível pracinha com a igrejinha de Nossa Senhora da Lapa do Ribeirão datada de 1806, como informa em sua fachada. Antes dos açorianos, a região era habitada por índios carijós, com registros em sambaquis de mais de 6 mil anos. Vale destacar que Minas também foi colonizada pelos açorianos, que deixaram marcas profundas em sua cultura, como a tradição culinária, agrária, e o sonoro carro de boi. Tudo isso nos faz lembrar de Ouro Preto, na arquitetura estampada no casario histórico tão conservado na Freguesia do Ribeirão da Ilha e em menor porção no Pântano do Sul.

É nessa região que se encontra as grandes fazendas de frutos do mar, que produzem 80% de toda produção nacional, tomando toda a faixa litorânea entre a ilha e o continente. Isso reflete no frescor dos frutos servidos nos restaurantes locais. Pequenos e aconchegantes, o restaurante mais conhecido em Ribeirão da Ilha, é o Ostradamus, com site na net: www.ostradamus.com.br, que apresenta os frutos do mar com requinte. Só para as ostras, existem mais de 15 formas de preparo, variando as sugestões como: in natura, alho e óleo, gratinada, carbonel, entre outras formas de preparo. Outros restaurantes menores oferecem os mesmos frutos com preço mais em conta, com cardápio para duas pessoas ao preço médio de R$ 80,00. Uma boa pedida como entrada no restaurante Ostra da Ilha, próximo ao Ostradamus, é a sardinha cozida na panela de pressão, como informa o cardápio, ao preço de R$ 18,00 a porção. Bem decorado e aconchegante, o Ostra da Ilha tem suas mesas em um trapiche panorâmico, que faz o visitante almoçar sob a água do mar, o que nos dá uma sensação diferente.

No Pântano do Sul, com sua praia de 3km de extensão, existem vários restaurantes na orla, de onde se avista as lindas ilhas ao sul de Florianópolis. Ali, muitos dos restaurantes também são de famílias de pescadores. O mais conhecido deles é o Arantes, que está há mais de 50 anos no mesmo endereço, em que se vê e lê nas paredes bilhetes pregados pelos turistas que passaram pelo restaurante ao longo dos anos, o que faz uma decoração sui generis. A variedade do cardápio é extensa, com especialidade em peixes e frutos do mar, podendo o turista almoçar ao preço médio de R$80,00 o casal.

Para quem quer passar a tarde tomando uma gelada e curtindo a paz e o visual, entre os muitos bares da orla se degusta as melhores porções de frutos do mar e peixes ao preço médio de R$20,00 para duas pessoas. Como sugestão, os peixes anchova e o espadinha, que são os preferidos dos pescadores. No pequeno bar e peixaria dos irmãos Fábio e Fabrício, ao pedir uma sugestão no cardápio eles informam: “a anchova e a lula eu fui buscar agora na rede, estão grandes e frescas”. Ao comentar a sugestão, arrematei: “é como lá em Minas ir buscar o frango do almoço no terreiro, ou os legumes na horta”.

Passeios

Para um bom passeio, entre muitos do Sul da Ilha, o mais indicado é o da praia de Naufragados. Nela só se chega por barco ou por uma caminhada de 3km em densa Mata Atlântica, em uma trilha com corredeiras e pequenas quedas d’águas. Com grau de dificuldade médio, encontra-se pela trilha além de turmas, famílias inteiras apreciando a beleza da flora da Mata Atlântica preservada ao sul de Florianópolis.

Paradisíaca e desértica, a praia de Naufragados é de uma beleza impar. O azul e o verde da água é único. Naufragados é com certeza uma das mais belas praias de Florianópolis. Em toda a sua extensão de 4km, existe apenas um bar e meia dúzia de casas, e mais nada. Toda essa área está tombada e será implantado um parque.

No único bar da praia, do folclórico Seu Andrino, personagem carimbada da ilha devido ao seu rotineiro mau humor, come-se peixes frescos e camarões ao preço médio de R$ 18,00 a porção. Distante de tudo e de todos, ainda se tem o privilégio de tomar uma sempre gelada cerveja. De Naufragados avista-se as outras praias do litoral catarinense, como as belas praias da Pinheira, de Guarda do Embaú e Garopaba.

Ali é o extremo sul da Ilha, a última praia. Depois, só o mar aberto tendo o continente margeando à direita.

Tudo parece ser generoso na ilha de Florianópolis. Até em suas várias opções para o turismo, sempre brindando o visitante com o que há de melhor na vida. Seja na busca de paz e tranqüilidade ou nas mais agitadas badalações. Cabe ao visitante fazer a sua melhor escolha.

Petrônio Souza Gonçalves é jornalista e escritor

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