Professor destaca papel das redes sociais na convocação de protestos

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O uso das redes sociais é a grande novidade na arregimentação de pessoas no século 21 e chega agora ao Brasil, após mostrar sua força em países europeus, asiáticos e africanos, disse o professor de comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Vítor Iório. Para ele, trata-se de uma ferramenta poderosa, por ser online e não ter obrigatoriedade de identificação – tanto pode ser legitimada pela assinatura quanto ser anônima.

“Nada disso impede que ela [ferramenta] arregimente uma legião de jovens.” A arregimentação, que começa com os mais jovens, em poucos instantes, consegue envolver os jovens mais adultos e, por fim, os adultos propriamente ditos, observou o professor . “Essa ferramenta não está mais em discussão. Ela é uma realidade”, disse Iório.

A análise dos discursos midiáticos de hoje mostra que, diferentemente do que se imagina, o movimento disseminado pelo Brasil não é apartidário, nem tem como motivação exclusiva o protesto contra os preços das passagens ou a falta de dinheiro no bolso, observou. “Não é nada disso. Eu diria que é a crise do capitalismo, que hoje mostra sua face mais perversa, mais cruel e violenta, que quebrou todas as utopias possíveis.”

Segundo o professor, o capitalismo, por necessidade de consumo exacerbado e pela velocidade de propostas buscando o lucro, acabou banalizando o homem contemporâneo, que está em crise. “Então, muitas vezes, eles são arregimentados pelas redes sociais, vão para a rua protestar contra a sua principal vontade de responder ao que está trazendo uma crise existencial tão grande. ”

Iório ressaltou, porém, que, pela velocidade de mobilização e pelo anonimato nas redes sociais, este é um mecanismo perigoso. “O perigo é total”, disse o professor, que aponta também uma crise de identidade no atual movimento. “Porque banaliza esse homem do século 21, principalmente o jovem, e dá a ele um discurso anônimo e assumidamente apolítico, como eles gostam de dizer.” Dizendo não acreditar em nada que seja apolítico, Iório pergunta: “Como se pode ficar fora dessa conversa, da negociação política? Só mesmo um anônimo.”

Para o professor, um ponto importante, que veio à tona recentemente, com o programa de vigilância das comunicações nos Estados Unidos, é a possibilidade de invasão da privacidade dos cidadãos, por e-mail ou pelas redes sociais. “Essa infiltração é claríssima nas manifestações”, disse Iório. Na cabeça da maioria das pessoas, trata-se de um movimento pacífico, apolítico, mas tem sempre “um grupo infiltrado para radicalizar e quebrar toda essa situação do Estado Democrático, do Estado de Direito”, ressaltou.

Na opinião de Iório, as manifestações envolvem outros interesses. “Acho que os que defendem o capitalismo estão em pânico porque, hoje em dia, este não é um sistema mais defensável”. Para Iório, é provável que os protestos estejam ligados ao interesse de um ou mais partidos, embora isso não esteja claro.

Agência Brasil

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