Com dezenas de países famintos pelo grão, cientistas brasileiros apostam na expansão do trigo tropical; “O que é mais importante do que pão?”
Leia a reportagem do Jornal The Wall Street:
CRISTALINA, Brasil – Nas profundezas da savana sufocante do Brasil central, uma revolução agrícola silenciosa está em andamento, prometendo alívio à medida que a guerra da Rússia na Ucrânia provoca escassez de alimentos.
Aqui nos trópicos, o cultivo de trigo – uma cultura mais adequada para temperaturas amenas – já foi considerado uma ideia maluca. Agora, novas variedades de “trigo tropical” rico em proteínas criadas por agrônomos estaduais já estão começando a colher colheitas e lucros recordes.
Com os preços mais altos atraindo os agricultores, os analistas preveem um aumento de até 40% na produção nacional de trigo para quase 11 milhões de toneladas este ano.
“O Brasil tem tudo o que precisa para se tornar um dos maiores produtores do mundo”, disse Celso Moretti, agrônomo e chefe da Embrapa, agência brasileira de pesquisa agrícola. Atualmente importador líquido de trigo, o Brasil tem hoje capacidade para triplicar a produção de trigo para 22 milhões de toneladas em terras agrícolas existentes nos próximos anos, tornando o país um dos 10 maiores exportadores do mundo, disse ele.
Embora o esforço para cultivar essas novas variedades tenha começado antes da invasão da Ucrânia no final de fevereiro, o momento não poderia ser melhor. Com quase 50 países dependentes da Rússia e da Ucrânia para pelo menos 30% de suas importações de trigo, a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação alerta que as interrupções causadas pela guerra podem levar à fome generalizada nas nações mais pobres.
Certamente, o Brasil não conseguirá preencher essa lacuna no curto prazo, pois os volumes ainda são pequenos. Mas os agricultores já estão começando a mudar isso.