Saramago e Ficha Limpa

202

Por Luiz Carlos Amorim – Escritor – Http://luizcarlosamorim.blogspot.com 

Não ia escrever sobre Saramago – tanto se escreveu, nestes últimos dias, em todos os jornais, que parece não haver mais nada a dizer, e a morte me entristece – mas volto atrás, depois que li a crônica da jornalista Ana Ribas, minha colega de espaço no jornal A Notícia, “O Mago que fica”. Como eu disse a ela, logo que terminei a leitura, foi a melhor coisa que li/ouvi sobre Saramago, desde a notícia da morte do escritor português, na sexta. Sem empolamento, com sensibilidade e simplicidade, ela disse bem e emocionou.

Confesso que li, até agora, apenas um livro de Saramago, o único escritor de língua portuguesa a ganhar o Prêmio Nobel de Literatura. Lerei, com certeza, os outros todos, pois já pude ter uma amostra do estilo e da qualidade da escritura dele e sei o que ele representa para a literatura não só portuguesa, mas mundial.

Ele esteve em Santa Catarina, em 1999, logo depois de ganhar o prêmio máximo da literatura, fez palestras, deu entrevistas, conheceu Santo Antônio de Lisboa e recebeu o Prêmio Honoris Causa, da UFSC.

Ficamos órfãos de um pensador sensível e sincero, que nunca se atrelou a nada e sempre teve a coragem de dizer o que sentia.

Sua obra já figura entre os clássicos da literatura universal. O homem, Saramago, fiel as suas idéias e convicções, transcende a vida e se torna imortal através da palavra.

E, mudando de assunto mas nem tanto, porque falamos de uma pessoa íntegra, como gostaríamos que fossem os nossos políticos, a Ficha Limpa, agora é lei no Brasil. Promulgada em 4 de junho, a Lei Complementar 135 já está valendo para as eleições deste ano, segundo parecer do Tribunal Superior Eleitorial, consultados acerca da validade da lei em 2010 e sobre os casos em que se aplica.

Além de valer já neste ano, deverá impedir registro de candidatos que tenham sido condenados por órgão colegiado antes da publicação da norma e, ainda, aumentar prazos de inelegibilidade de três para oito anos para quem está sendo processado ou já foi condenado com base na redação anterior da Lei das Inelegibilidades.

Isto significa que a esperteza dos políticos que mudaram um verbo, na proposta original do projeto da Lei Ficha Limpa, para que não fossem alcançados por ela, não funcionou.

A lei deverá ser aplicada aos candidatos condenados por um grupo de juízes antes mesmo da sua promulgação. Por 6 votos a 1, o plenário compreendeu que a alteração verbal não altera o principal objetivo da lei, que é resguardar o interesse público.

Vitória para o povo, que quer uma safra de novos políticos que trabalhem pelo interesse dos cidadãos, mais transparência na política brasileira, que precisa de candidatos decentes para que possa votar em alguém nas próximas eleições. Vamos ver o que acontece daqui para a frente, vamos conferir se realmente a lei será cumprida, se todos aqueles que tem ficha suja ficarão de fora.

Os corruptos de plantão tentarão algum meio de se livrar, então cabe a nós verificarmos as fichas dos candidatos – agora podemos pesquisar e saber, tudo está na internet – e fiscalizarmos. E não votar nos candidato que não tenha ficha limpa.

FAÇA UM COMENTÁRIO

Por favor digite um comentário
Por favor digite seu nome aqui