Novo governo da Tunísia não desperta confiança e manifestantes voltam a protestar em Tunis

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Mesmo depois da queda do presidente Zine El Abidine Ben Ali, novos protestos levaram milhares de pessoas às ruas da capital da Tunísia, Tunis, nesta terça-feira (18). Os manifestantes não concordam com a composição do governo de transição, anunciada ontem (17), que manteve aliados do ex-presidente em postos-chave da administração pública. A polícia usou bombas de gás lacrimogênio, cassetetes e escudos para dispersar os protestos.

Na segunda-feira (17), o primeiro-ministro, Mohammed Ghannouchi, anunciou a composição de um governo de coalisão para conduzir o país até as próximas eleições, daqui a seis meses. Ele manteve-se no cargo, bem como os titulares dos ministérios do Interior, Relações Exteriores e Defesa. Três líderes oposicionistas foram indicados para as pastas da Educação Superior, Saúde e Desenvolvimento.

Entretanto, três dos indicados a ministro já desistiram dos cargos, depois que a maior central sindical do país, União Geral dos Trabalhadores da Tunísia (UGTT), decidiu não reconhecer o novo governo.

O ex-presidente Ben Ali deixou o poder na sexta-feira (14), ao fugir do país para refugiar-se na Arábia Saudita. Ele presidia a Tunísia desde 1987. Depois da queda de Ben Ali, o governo do primeiro-ministro Ghannouchi tenta manter-se no poder prometendo reformas econômicas e políticas, legalização de partidos, supressão da censura e libertação de presos políticos. Hoje (17), desembarcou em Tunis o líder exilado Moncef Marzouki, que passou os últimos 20 anos em Paris. O partido dele foi banido durante o regime de Ben Ali.

Há cerca de um mês, estudantes, profissionais liberais e desempregados iniciaram uma onda de protestos contra os altos índices de desemprego e a subida repentina dos preços no país. Mobilizados pela internet, os protestos logo voltaram-se contra a falta de liberdade de expressão. O governo confirmou que 78 pessos morreram durante as manifestações.

Os analistas acham difícil que a onda de manifestações tunisina inspire movimentos semelhantes em outros países africanos. Mesmo os governados por regimes autoritários. “Já tivemos o caso da Argélia, com violência nas ruas. Agora temos a Tunísia, e algum movimento também no Egito”, diz Aly Jamal, doutor em relações internacionais e especialista em conflitos africanos, do Instituto Superior de Relações Internacionais de Moçambique. “Mas cada país tem sua especificidade”.

Ele lembra que, em outras ocasiões, o Egito passou por pressões populares e Hosny Mubarak, presidente desde 1981, soube equilibrar as tensões. “Vai ser uma correria para reduzir os níveis de dificuldades do dia a dia”, disse ele. “E, eventualmente, evitar que a situação atinja o nível de explosão.”

Agencia Brasil

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