O policial militar de S. Paulo é um dos mais desvalorizados do país

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Antonio Tuccílio, presidente da Confederação Nacional dos Servidores Públicos (CNSP)

São Paulo é o estado mais rico do Brasil, representando mais de 32% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. É também o estado menos violento, segundo pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (a taxa de homicídios é de 9,5 para 100 mil habitantes). Apesar dos números positivos, São Paulo é um dos últimos estados em remuneração de policiais militares. Até alguns dias, antes do aumento de 5% concedido pelo governador João Dória (PSDB), o salário de um soldado iniciante era de R$ 3.143. Para efeito de comparação, o estado de Goiás paga R$ 5.767 para o mesmo cargo.

Policiais cobram uma remuneração digna há muitos anos. Inclusive, durante campanha, o próprio Doria prometeu tornar o salário do policial de São Paulo o maior da federação, por isso esperava-se que o aumento oferecido fosse maior. Na prática, esses 5% representam mais ou menos R$ 72 para aqueles que estão ingressando na área. É muito pouco considerando os riscos dessa profissão e suas desvantagens.

Muitas pessoas não sabem, mas a verdade é que policiais militares não têm direitos trabalhistas, são proibidos de fazer greves, não recebem adicionais noturnos e não são pagos por horas extras. O turno de trabalho é de no mínimo 12 horas, podendo se estender caso surjam novas ocorrências. 

Além da péssima remuneração, o policial militar de São Paulo ainda precisa lidar com o descaso e desrespeito dos governantes. Há pouco mais de duas semanas, o próprio governador Doria atacou policiais militares aposentados durante evento em Taubaté. Na ocasião, ele disse a um dos manifestantes: “Vai pra sua casa. Vai comer sua mortadela com a sua mãe, seu sem vergonha. Eu respeito é policial que trabalha”.

Depois, incitou o público contra os policiais aposentados: “Povo trabalhador, levante seu braço, mostre que você trabalha. Mostre que você gosta de Taubaté. Mostre aqui para esses vagabundos que não têm o que fazer”. Para o governador, policiais mal remunerados e que durante décadas colocaram suas vidas em risco em prol da segurança da população são vagabundos.

É preciso dar um basta na campanha que se faz contra a Polícia Militar e aumentar a remuneração mensal dos policiais.

Ser policial é trabalhar em uma das profissões mais perigosas do mundo. Policial que sobrevive raramente chega à aposentadoria sem ter perdido colegas de trabalho assassinados por criminosos. Além da violência direta, essa é a categoria com a maior taxa de suicídio do país. No ano passado, mais de 100 policiais tiraram suas vidas, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Graças à rotina estressante, policiais tendem a sofrer de problemas cardiovasculares e depressão. Um aumento de 5% é muito pouco para quem está exposto a tantos problemas.

Ana Lívia Lopes

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