A origem das espécies corruptas

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Armando Correa de Siqueira Neto*

26 de outubro de 2009 – querido diário: a bordo do navio Brasil, e com os olhos bem atentos, posso propor algumas suposições de como se originou a corrupção nas terras longínquas e destituídas de controle e pudor por mim estudadas.

A imensa mata recheada de descaso e cinismo domina a paisagem. Algumas espécies de aves entoam cânticos entorpecentes que inebriam as demais, aproveitando-se desse momento para tomar-lhes boa parte do alimento coletado ao longo do dia. E, embora cause assombro tal acontecimento, pouquíssima reação é percebida. Na verdade, um escândalo encobre o outro, devorando o seu antecessor por sua dimensão ainda maior e bem mais estarrecedora. Fica aqui registrada a minha dúvida acerca do princípio de causa e efeito tão amplamente estudado, porém igualmente menosprezado na oportunidade prática que se lhe impõe. (A verificar em estudos posteriores.)

Não obstante, cumpre-se entender a origem dessa corrupção. Para tanto, recorrer-se-á a comparação entre as espécies ali presentes. Ao observar que, quanto mais algumas aves – notadamente a Spertalli brasilias ou bolso-grande e a Engrupus brasilias ou nada-tenho-a-provar – encontram brecha, sem o controle das muitas outras e com o acordo de outras poucas, tanto menos a justiça lhe é parceira, facilitando a seleção crescente do injusto desvio do resultado da labuta empreendida pela maioria das aves. Deduz-se que não há princípio moral algum em tal convívio, e que a natureza primitiva predomina sem qualquer obstrução e se sobrepõe a qualquer acordo honroso de convivência civilizada, muito embora a passividade das aves injustiçadas permita a continuidade do assalto sádico e endosse a submissão masoquista. Anote-se novamente a minha dúvida a respeito da ação empreendida e da reação inexistente. (A verificar oportunamente.)

Porquanto, entre uma espécie e outra, ou seja, na comparação entre as aves corruptas sádicas e as aves submissas masoquistas que se sujeitam à corrupção, emergem algumas hipóteses: (1) o poder hipnótico das espécies corruptas deve ter estimulado a aceitação generalizada da injustiça em larga escala, haja vista o controle e a ausência de reação das espécies passivas terem-se mostrado empobrecidos; (2) a hipnose advinda da corrupção gerou mutações importantes nos padrões de se compreender o que é certo e o que é errado, encobrindo qualquer evidência de bom senso e crítica; (3) muito se pia na floresta, mas pouco se faz para mudar (por influência da hipnose), pois a cada nova troca das lideranças, velhas aves corruptas retornam em bando, e em número significativo, ao seu lugar de desmando; (4) a origem das espécies corruptas é um assunto pra boi dormir e pouca relação tem com o cenário atual, permanecendo relegada a um plano inferior, pois as aves têm coisas mais importantes a fazer (conseguir ninhos cada vez maiores e enchê-los de gravetos desnecessários, por exemplo, além de ficar piando maledicências sobre a vizinhança) do que se preocupar com os problemas políticos existentes na floresta em que habitam.

Como se percebe, com toda a modéstia, não é possível que se indique uma única possibilidade para explicar o que leva algumas espécies a enveredar sadicamente pela trilha da corrupção e outras a se submeter de modo masoquista. Ainda, insisto na questão daquilo que não compreendi: onde está a reação saudável frente à tamanha ação doentia? (A verificar futuramente.)

 

*Armando Correa de Siqueira Neto é psicólogo (CRP 06/69637), palestrante, professor e mestre em Liderança. Coautor dos livros Gigantes da Motivação, Gigantes da Liderança e Educação 2006. E-mail: [email protected]

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