Chinelo Velho

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unnamed (1)Gen Pedro Luís de Araújo Braga
É possível que os que pertencem às gerações Woodstock, Facebook, e Selfie estranhem este título, o qual, aparentemente, nada tem a ver com o tema desta campanha. É que, fazendo eles uso apenas de sandálias havaianas ou chinelos de dedo, não estão familiarizados com aquele calçado doméstico, bastante desgastado, extremamente cômodo e confortável, quase pedindo aposentadoria, do qual seus donos não queriam desfazer-se.

Mas tal expressão, conforme já devem ter percebido, traz em si um certo quê de saudosismo. Sim, lembranças de uma época que não volta mais, quando o povo era feliz e não sabia…

Olho para trás, recordando-me do distante tempo de minha infância. Nas Escolas Públicas que frequentei – e como eram boas, tendo professoras vocacionadas, competentes, pedagogas, que não faziam greve, todas oriundas do tradicional Instituto de Educação ou Escola Normal, da Rua Mariz e Barros, no Rio de Janeiro – diariamente no turno da manhã, antes da entrada para as salas de aula, assistíamos reverentemente o hasteamento do Pavilhão Nacional e cantávamos o nosso Hino, ou o à Bandeira, ou ainda o da Independência e o da Proclamação da República. Sabíamos todos eles de cor. Isto era civismo, ensinado e incentivado desde tenra idade! Moral e Cívica era matéria estudada no curso secundário. E, a partir de 1964, se não me engano, também OSPB nas escolas de 2º grau e Estudo de Problemas Brasileiros nas Faculdades.

De uns anos para cá, tudo mudou. Há quem considere ética, moral e civismo como “resquícios do autoritarismo”, ou “coisa de milico” ou, irreverentemente, como “frescura”. Aliás, até o presente, passados tantos anos, ainda há quem, despudoradamente, culpe os governos militares por tudo o que acontece neste País. Para exemplificar, recordo-me que, na década de 90, em um programa de notícias matutino, o jornalista que o conduzia, em certo momento, ao ouvir queixas de seu interlocutor, um antipático e arrogante político que pertencia a um partido então no poder, sobre determinados acontecimentos que não estavam agradando, calmamente, redarguiu: “ Mas, Senhor, o seu Partido está no Governo e, então, é culpado também por tudo isto! ” E ele, com sua irritante voz de “ cana rachada”, agressivamente respondeu: “Meu Partido não é culpado de coisa nenhuma! Culpados são os vinte anos de autoritarismo! ” É sempre assim: é preciso apontar um responsável, desde que não sejam nem eu, nem os meus…

Ética, Moral, Civismo… sentimentos, condutas, virtudes, apanágio de muitos de nossos antepassados, foram esquecidos, relegados e viraram até motivo de pilhérias. No novo Brasil do “quero o meu” e do “a boca é boa, também quero me arrumar”, que passaram a fazer parte do cancioneiro popular, entoado, com certo grau de cinismo e deboche; no País das bolsas e das quotas, que privilegiam eleitores de cabresto e que não honram o mérito; há outras coisas que recebem mais atenção e prioridade no momento. Sobreviver é o lema, não importa o quanto custe. Já não há preocupação com o bem-estar do povo, objetivo maior de um governo democrático.

A cada dia surgem mais notícias sobre o envolvimento, até de pessoas gradas, em vergonhosos e gigantescos casos de corrupção, lavagem de dinheiro, negociatas, “ toma lá, dá cá” e outros malfeitos, tudo com dinheiro público, a par de campanhas de descrédito contra instituições garantidoras da ordem, da liberdade e da soberania. Direitos humanos só para os marginais… Se a Polícia faz, é atacada; se deixa de fazer, também o é.

Eis porque uma parcela não-alinhada da mocidade, sem esperança no amanhã, busca emigrar para um ambiente mais sério, onde possa crescer profissionalmente como resultado de seu trabalho e de seu valor. E deseja fazê-lo, não para países decantados pelo Foro de São Paulo e por empedernidos comunistas, como Cuba, Venezuela, outros países bolivarianos e Coréia do Norte, mas para “ imperialistas” como EUA, Canadá, Austrália, Alemanha, Inglaterra, França e tantos mais, onde ideologias nefastas não têm credibilidade e não prosperam.

E também porque os mais idosos, céticos, exaustos de tanta mentira, envergonhados e que desfrutaram de dias melhores, murmuram, parodiando, com sinal negativo, a expressão alvissareira de Afonso Celso:

“ Porque não me ufano do meu País”.

Se os mortos vissem, estou certo de que nossos dois Imperadores, Caxias, Rio Branco, Tamandaré e centenas de outros, reverenciados sempre pela parcela sadia da sociedade, com admiração e como exemplos a serem seguidos, assistindo toda essa destruição de valores, estariam angustiados, perplexos, acabrunhados e lamuriantes, exclamando:

“O que fizeram do meu Brasil! ”

Estarrecido, humilhado, e tristonho, como brasileiro que conheceu outras épocas, mas mesmo assim ainda com fé, na certeza de que Deus tudo proverá, vou calçar o meu chinelo velho…

Pedro Luís de Araújo Braga é General de Exército e presidente do Conselho Deliberativo do Clube Militar.

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