Conflitos no mundo árabe e justiça ambiental marcam discussões no FSM

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Os conflitos em países árabes foram praticamente o principal tema de discussões e debates no cinco dias do Fórum Social Mundial (FSM), que terminou hoje (11). O evento, dentro de sua própria concepção, discute mudanças sociais que ocorrem no mundo por ocasião de sua realização. Mas outra explicação para a recorrência do tema nos debates é o fato do Senegal estar localizado na porção Ocidental da África.

“Obviamente, como estamos na África, os temas dos conflitos dos povos árabes, especialmente no Egito e na Tunísia [que ficam ao Norte], foram mesmo uma preocupação central”, diz o sociólogo venezuelano Edgardo Lander.

“No caso egípcio, o que está em jogo não é só a luta por democracia de 80 milhões de habitantes, mas também o fato de [o Egito] ser uma peça de destaque na geopolítica global, fundamental para os Estados Unidos por causa do Canal de Suez, do petróleo, da relação com Israel. É importante nessa ordem imperial em funcionamento no Oriente Médio”, declarou Lander, durante protesto feito por participantes do fórum contra a permanência de Mubarak no poder, em frente à embaixada egípcia.

Mas o sociólogo destacou outro tema do fórum deste ano: a articulação ligada à luta por justiça ambiental. “Transformou-se em um eixo que, de alguma forma, articula a autonomia alimentar, a dívida externa, o militarismo. É um ponto de convergência, que permite articular uma parte fundamental na luta contra o padrão destrutivo da globalização liberal e o reconhecimento dos limites do planeta”.

Nos cinco dias do fórum, os marroquinos protagonizaram um embate constante com os cidadãos do Saara Ocidental, hoje parte do território do Marrocos, mas que busca independência. Sindicatos e participantes provenientes do país marcavam seus discursos – sobre qualquer tema – com a frase “O Marrocos é só um”, enquanto os moradores do Saara Ocidental buscavam espaços para se manifestar.

Em uma das assembleias de encerramento da 11ª edição do FSM, o encontro das mulheres, o choque de posições impediu a assinatura de uma declaração conjunta, já que as marroquinas impediram que fosse feita menção de apoio à independência do Saara Ocidental. Outra carta circulou em separado e foi assinada por várias entidades.

No evento, os brasileiros estiveram muito envolvidos e atentos às questões de desenvolvimento econômico e meio ambiente. O motivo é a realização de dois eventos que tratam dos dois temas neste ano: em dezembro ocorre a 17ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP17), em Durban, África do Sul; e, em 2012, a Conferência Rio+20, que leva esse nome por marcar os 20 anos da Rio 92, evento sediado pelo Rio de Janeiro considerado um divisor nas discussões sobre as questões ambientais.

“Nós estamos fazendo uma articulação para os dois eventos em conjunto”, contou a coordenadora da Rede Jubileu Sul para a América Latina e o Caribe, Sandra Quintela. “Agora, na COP16, em Cancun [o evento ocorreu em dezembro do ano passado], houve um reforço à economia de mercado, chamada de economia verde, que, na verdade, são falsas soluções, que não vão frear o aquecimento global”.

O grupo de ativistas brasileiros no fórum foi grande e representativo. Berço do Fórum Social Mundial, cujas primeiras edições foram em Porto Alegre, o país pode voltar a sediar o evento em 2013. O governo do Rio Grande do Sul já trabalha para que isso se concretize, tendo divulgado uma uma carta em que Porto Alegre é citada como alternativa. Montreal, no Canadá, também pode apresentar-se como candidata a sediar a próxima edição do fórum, bem como cidades europeias.

Agência Brasil

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