Crônica política

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Imagine você, caro leitor, que trabalha de segunda a sexta, de 8 às 18h, a seguinte situação: numa bela tarde de sexta-feira, como a que fez em Belo Horizonte ontem, o seu chefe se despede de você, dizendo: querido colega, dentro em breve, eu vou reduzir a sua jornada de trabalho para seis horas diárias.

 Sua primeira pergunta talvez seja: chefe, mas e o salário? (na real, você decerto perguntaria isso, querendo dizer: Ei, cara! Já vai dar um jeito de cortar meu pagamento, não é?).

 Porém, novamente seu chefe o surpreende: O salário vai ficar exatamente do mesmo jeito, sem um centavo sequer de desconto. Aí, talvez você responda: Puxa, chefe! Seria maravilhoso! (quando, na verdade, gostaria de perguntar: Ai, ai, ai… onde é que está a sacanagem nessa história?).

 Pois é, nobre leitor. Em Minas Gerais, a “sacanagem” nessa história atua em pelo menos duas frentes. Vejamos como será isso.

 No que diz respeito aos servidores públicos de Minas Gerais, tal benefício será concedido porque o funcionalismo está de mudança para a chamada Cidade Administrativa, um suntuoso complexo situado na divisa de Belo Horizonte com os municípios de Santa Luzia e Vespasiano, na região metropolitana da capital.

 É o que diz uma lei publicada ontem (a tal bela sexta-feira) no Diário Oficial de Minas Gerais. O dispositivo prevê que o Executivo, atendendo à conveniência do serviço público, poderá reduzir em até 25%, no ano de 2010, a jornada de trabalho dos servidores que venham a desempenhar suas funções no local.

O local em questão é um belíssimo (diga-se de passagem) projeto de Oscar Niemeyer, construído a toque de caixa pelo ex-futuro presidenciável e futuro ex-governador Aécio Neves. Fica às margens da MG-10, estrada que dá acesso ao Aeroporto Internacional de Confins (que, na verdade, tem o nome do ilustre avô, Tancredo Neves, mas isso já vem de antes de Aécio).

 Estamos falando, nas palavras do próprio governador, do maior prédio suspenso em concreto do mundo, com um vão de 147 metros, uma ousadia de Oscar Niemeyer e de toda a sua equipe. (incluiria o faraônico Aécio dentro dessa “ousadia”, por motivos diversos daqueles relativos ao grande arquiteto).

Ocorre que o novo centro administrativo fica relativamente afastado da região central da cidade, obrigando que os funcionários ali instalados promovam grandes adaptações em suas rotinas e em seus compromissos particulares, fato que motivou a redução na jornada.

 É aí que mora a segunda “sacanagem” da história, pois diz respeito ao serviço público prestado. Ora, se um servidor tem a sua jornada de 8 horas reduzida para 6 horas, são 10 horas a menos de trabalho ao fim de uma semana, o que dá 40 horas menos ao final de um mês. Ou seja, nos atuais moldes, perde-se uma semana inteira de trabalho para cada mês trabalhado (no caso de servidores que trabalhem 8 horas por dia e que tenham a tal redução de 25%).

 Ah, só lembrando, existe aquela terceira sacanagem: como não haverá redução de salários (e nem seria justo com os servidores que já sofrerão com o trânsito e as longas viagens), quem vai pagar essa “semana e menos” de trabalho, como não poderia ser diferente, será o esfolado contribuinte mineiro.

 Com a palavra, o governo de Minas, que criou um site exclusivamente para apresentar o complexo. Acesse aí: www.cidadeadministrativa.mg.gov.br

 Heitor Diniz

Jornalista

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