Deputado Romário, “Copa do Mundo vai custar R$ 100 bilhões para o Brasil”

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Valor será, no mínimo, dez vezes maior do que o previsto pela CBF em 2007

Gustavo Alves, do R7

Cem bilhões de reais. É com esse custo, no mínimo, que o Brasil terá que arcar para receber a Copa do Mundo de 2014. Cerca de dez vezes o valor da primeira previsão feita pelo presidente da CBF, Ricardo Teixeira, em 2007, quando o pais ganhou o direito de sediar o Mundial. O gasto atualizado foi revelado pelo deputado federal Romário (PSB), eleito no Rio de Janeiro no ano passado.

Em entrevista exclusiva ao R7, o ex-atacante da seleção brasileira, agora político, é direto ao falar sobre assuntos polêmicos. Faz duras críticas à organização da Copa do Mundo e a Ricardo Teixeira, que acumula os cargos de presidente da CBF e do COL (Comitê Organizador Local). Romário diz que a marca do Mundial de 2014 vai ser o “jeitinho brasileiro”.R7 – Por que você entrou para a política?
Romário –
Entrei na política por causa da minha filha [Ivy, portadora de síndrome de Down], por causa das pessoas com deficiência. E com o objetivo também de fazer alguma coisa pelas crianças e os jovens de comunidade, principalmente carentes.
R7 – O que te fez começar a fiscalizar a Copa? Você mudou seus planos?
Romário –
Não mudei nada, não. O meu plano continua igual, só que agora eu faço parte de uma comissão de Esporte e Turismo e essa comissão tem o dever de fiscalizar a Copa. Esses meus outros objetivos estão correndo paralelo, caminhando junto.
R7 – Você já visitou cinco das 12 cidades-sede da Copa. Pelo que você tem observado, como está o Brasil na preparação para a Copa do Mundo?
Romário –
Muito atrasado. Se coisas diferentes não acontecerem, a gente vai fazer a Copa, é claro, mas vai ser apenas mais uma Copa. Não vai passar disso.
R7 – Então não vai ser uma “grande Copa”, como chegaram a falar?
Romário –
Eu também falei, porque o Brasil tinha mesmo condições de fazer a maior Copa de todos os tempos.
R7 – Das cidades que você visitou até agora, qual é a que mais te impressionou?
Romário –
Cara, todas as cidades têm problemas. Mas pegue Curitiba, por exemplo. A Arena da Baixada é um estádio que falta pouco para finalizar, com certeza não vai ter problema. O Castelão, em Fortaleza, a princípio, também não. Pelo que me disseram em Manaus, o aeroporto deles já comportaria o movimento de uma Copa do Mundo, segundo o que foi colocado para a gente pelo superintendente da Infraero. Mas em mobilidade urbana as cinco cidades estão muito atrasadas.
R7 – Muito se fala do atraso nos estádios, mas, pelo que você viu, poucas obras foram feitas também nas cidades?
Romário –
Não tem nada feito. A gente espera que, com essa flexibilização das licitações que foi aprovada agora, as coisas aconteçam. Mas as pessoas não podem interpretar flexibilização como facilitação. Senão vai virar, desculpe a expressão, uma zona completa. o TCU [Tribunal de Contas da União] tem que acompanhar, assim como o TCE [Tribunal de Contas do Estado]. Esses órgãos são importantíssimos nessas flexibilizações para que não haja nenhum tipo de falcatrua, de roubo, de mutreta, essas coisas que a gente conhece e que podem acontecer. O objetivo com as flexibilizações, principalmente por parte dos deputados, é que, daqui a dois anos, os Estados, com seus governos, não venham com esse papo de “Agora, como está próximo da Copa, virou obra emergencial”. Aí você imagina como vai ser o gasto com o dinheiro público.
R7 – Apesar de o Brasil ter sido escolhido sede da Copa em 2007, pouca coisa foi feita. Você acha que tudo caminha para que as obras entrem em caráter emergencial?
Romário –
Essa flexibilização das licitações, na minha cabeça, como deputado e brasileiro, é exatamente para que isso não aconteça. Mas não sou eu quem vai decidir isso lá na frente.
R7 – A Fifa deve decidir em julho o local de abertura da Copa. Você apostaria em alguma cidade para receber a abertura? Como São Paulo está nessa briga?
Romário –
Eu não vejo São Paulo como uma possibilidade porque não tem nada ainda em São Paulo. A não ser que as obras comecem amanhã e trabalhem em três turnos. Hoje, não vejo São Paulo como candidato à abertura da Copa. Eu colocaria o Maracanã, mas ainda não vi a obra. Apesar de que lá o gasto vai ser absurdo também. Já está em R$ 1,2 bilhão um orçamento que começou em R$ 400 milhões. Mas apostaria no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte.
R7 – Como você explica para o povo, depois de quatro anos desde que o Brasil foi escolhido sede da Copa, que quase nada foi feito?
Romário –
É simples. Falta de capacidade e de organização. É bem simples. Falta de capacidade, de organização, de seriedade e de profissionais que realmente se comprometam a cumprir aquilo que dizem. E não é só no governo. São os profissionais mesmo. Vou te dar um exemplo. O nosso presidente da CBF, em 2009, falou que só de estádios nós gastaríamos R$ 2,5 bilhões. Hoje, esse gasto já está em R$ 5,8 bilhões, e a previsão do Ministério dos Esportes é de que vai chegar a R$ 7 bilhões no final de julho. Detalhe: o Brasil ia gastar R$ 2,5 bilhões e não ia usar dinheiro público. Você é jornalista e deve ter ouvido isso várias vezes, assim como eu ouvi. Já estamos quase em R$ 7 bilhões e tudo com dinheiro público

Vice-presidente da Comissão de Turismo e Desporto da Câmara, ele não nega o rótulo de fiscalizador da Copa no Brasil. Pelo contrário. Promete expor cada vez mais o que vê nas viagens que faz com a Comissão pelas cidades-sede. Desde fevereiro, já esteve em Manaus, Recife, Curitiba, Belo Horizonte e Fortaleza.

Veja abaixo a entrevista completa com Romário:

 

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