Redescobrindo a Simpatia

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William Barclay, em seu comentário de Romanos, narra um episódio acontecido no tempo da escravidão nos Estados Unidos. Foi um diálogo, na cidade de Charleston, na Carolina do Sul, travado entre uma senhora branca e uma escrava, não sua, mas da vizinha.

A senhora diz para a escrava: “Lamento tanto que a sua tia Lucy tenha morrido. Você deve estar sentindo muito a falta dela, não? Afinal, vocês pareciam ser muito amigas”.

“Sim, sinhá. Lamento muito a morte dela. Mas não éramos tão amigas assim”.

“Como não? Pensei que fossem. Vi vocês rindo e conversando tantas vezes!!!”.

“Isso mesmo!” – replicou a escrava. – “Rimos e conversamos muitas vezes, mas éramos apenas conhecidas. Sabe, sinhá Rute, nós nunca choramos juntas. Para serem verdadeiramente amigas, as pessoas precisam chorar junto”.

A escrava sabia das coisas. Quando Jesus foi visitar seus amigos enlutados em Betânia, diz o Novo Testamento, ele chorou (João 11.35). As lágrimas de Jesus têm sido usadas como um forte argumento em favor de sua humanidade. Elas também têm sido lembradas como um sinal verde para chorarmos, também nós. Chorar não é demonstração nem de incredulidade nem de fraqueza. Ao par de tudo isso, porém, destacarei a solidariedade de nosso Salvador. Seus olhos não conheciam o aço frio da indiferença. É por isso que o ainda não identificado autor de Hebreus dirá que “não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas, mas alguém que, à nossa semelhança, foi tentado em todas as coisas, porém sem pecado” (Hebreus 4.15).

Paulo, nas recomendações práticas de Romanos, diz aos crentes: “Alegrai-vos com os que se alegram; chorai com os que choram” (Romanos 12.15). Quem está alegre precisa de alguém com quem possa celebrar. Quem está chorando necessita de um ombro onde possa apoiar a cabeça. Na agitação das grandes cidades, é preciso redescobrir o significado sublime da palavra simpatia. Não o da superstição, da mandinga feiticeira que promete tudo resolver, mas o da etimologia: sentimento de boa disposição e solidariedade para com os outros.

Pr. João Soares da Fonseca

 

 

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