A política educacional

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Armando Correa de Siqueira Neto*

Se você é daqueles que crê na igualdade entre as pessoas, então reflita: que razões levam alguns a se destacar mais do que outros? Ainda que se leve em consideração o nível sócio-econômico, é essencial que não se perca de vista que importantes personalidades, as quais ajudaram a impulsionar o mundo de maneira incomum, eram desprovidas de dinheiro na infância, em alguns casos, eram miseravelmente pobres. Portanto, seus conhecimentos foram adquiridos com muita luta, haja vista elas não possuírem recursos financeiros que lhes auxiliasse na própria formação. Apenas para citar alguns exemplos, Henry Ford (1863-1947), Albert Einstein (1879-1955), Juscelino Kubitschek (1902-1976), dentre outros. Não obstante, mesmo os desconhecidos, de considerável inteligência, merecem ser incluídos nesta discussão. Porém, trata-se da exceção, e não da regra. Assim, deve-se voltar a atenção para as dificuldades da maioria que não recebe o devido estímulo e resta refém do atraso, gerando, consequentemente, pesarosas frustrações pessoais (intelectual e material) e sociais (marginalização e baixo nível de contribuição para o estado).

Não se pretende aqui, evidentemente, suscitar qualquer dúvida acerca dos direitos legais que regulam as sociedades. Não, absolutamente. O que se questiona, contudo, é a igualdade tão pretendida no campo dos resultados sociais. Como é possível obter a mesma resposta de duas pessoas distintas se difere o seu nível de saber? Mais: e quanto ao esforço empregado mais por um do que por outro para se atingir uma dada meta? Não é prudente reconhecer tais aspectos na hora de avaliar que causas encontram-se na base do desempenho na trajetória das conquistas? Além das questões genéticas tão amplamente estudadas nos últimos tempos, não é recomendável prezar a intervenção do meio? Ao se tratar de um investimento intervencionista de proporções que devem alcançar o tamanho do Brasil, não é correto preocupar-se com a qualidade da proposta e a sua execução desde a fonte que a projetou? Tal origem não se localiza nas pautas prioritárias do governo? Já não se fala sobre a educação nacional através do apelo igualitário advindo dos muitos discursos que povoam as nossas casas políticas?

Entrementes, só a palavra é bem pouco, embora ela seja um importante instrumento das expressões que permeiam o diálogo e as escolhas democráticas. Porquanto é preciso bem mais. Note-se, entretanto, que falar em igualdade, ou tentar concretizá-la sem introduzir a ideia de formação educacional com as mesmas oportunidades para todos é nadar contra a encorpada correnteza da ingenuidade, fazendo esgotar os esforços e a boa fé de gente hoje engajada no propósito evolutivo das crianças que inexoravelmente se tornarão os adultos de amanhã. Sem o devido ponto de partida, a corrida já se projeta desigual, injusta. Por tal posicionamento, sou partidário de algumas proposições do senador Cristovam Buarque (PDT-DF), as quais desembocam, por incontáveis vezes, no que se denominou de educacionismo: “um movimento que construa uma sociedade na qual o filho do trabalhador estude na mesma escola que o filho do patrão; o filho do pobre na mesma escola que o filho do rico; todas com o máximo de qualidade que os tempos atuais exigem.” Vê-se ai, porém, uma bandeira que não atinge o completo e fundamental hasteamento, atrasando o avanço a que todos têm direito, e que, talvez, cheguem até a desconhecer tal sorte, tropeçando na desventura da inconsciência que entorpece o potencial do desenvolvimento inegavelmente presente no ser humano.

Assim, a política educacional mostra-se, ainda, insatisfatória. Eis uma faceta da pobreza que atrai ainda mais pobreza. É um circulo vicioso, do qual alguns escapam e outros não. Se você é daqueles que crê na igualdade das pessoas, leve em conta o alicerce que pode lançá-las a uma condição verdadeiramente favorável. Conhecimento e consciência, além do esforço, são as armas que podem combater, com larga margem de acerto, a miséria que devora as sementes do crescimento sem qualquer cerimônia. Se você é daqueles que crê na igualdade das pessoas, lute por si mesmo e pelos outros, através do debate político comum e da articulação política junto aos parlamentares, exigindo maior qualidade educacional nas muitas escolas públicas espalhadas pelo país. Se você é daqueles que crê na igualdade das pessoas, ainda que elas sejam singulares e cresçam em velocidades diferentes, ajude a estimular o desenvolvimento da política educacional. Não se omita.

*Armando Correa de Siqueira Neto é psicólogo (CRP 06/69637), palestrante, professor e mestre em Liderança. Coautor dos livros Gigantes da Motivação, Gigantes da Liderança e Educação 2006. E-mail: [email protected]

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