Fluminense vence Cerro Portenho em uma verdadeira Guerra do Paraguai

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flu_671295739Historicamente, a Guerra do Paraguai é considerada o maior conflito existente na América do Sul, que durou de 1864 a 1870, envolvendo paraguaios, brasileiros, uruguaios e argentinos por territórios e defesas de suas fronteiras. No mundo do futebol, entretanto, Fluminense e Cerro Porteño reescreveram, na noite de quarta-feira, a batalha. Em jogo estava o primeiro passo por uma vaga na decisão da Copa Sul-Americana, e como arma foram usados de um lado o futebol, e do outro todo tipo de artifício recorrente em competições continentais.

Os 30 minutos em que a delegação tricolor permaneceu no gramado à espera de segurança para seguir ao vestiário, entretanto, em nada lembraram o clima festivo que tomou conta de La Olla Azul y Grana antes do espetáculo. Pela primeira vez na semifinal da segunda competição mais importante das Américas, a torcida do Cerro iniciou a partida mais preocupada em festejar a possibilidade de levantar o primeiro troféu internacional, e chamou a atenção pela animação em um cenário marcado pelo amadorismo.

Com o Defensores del Chaco, maior estádio do país, relegado em nome de um caldeirão, o Cerro Porteño apresentou uma casa capaz de impor respeito a qualquer adversário, mas abaixo do nível mínimo de exigência para uma competição como a Sul-Americana. Enquanto o hino do clube em ritmo tropical, uma espécie de mambo, era executado a todo instante, a imprensa estrangeira era obrigada a se expor entre os entusiasmados “hinchas” para chegar ao seu destino.

Se a barra (organizada) azul e grená cantava incessantemente músicas de incentivo ao time, apesar de em menor freqüência que a torcida de “La U”, encarada pelo Flu na semana anterior, gandulas e crianças disputavam uma pelada minutos antes do apito inicial, dando prova da falta de rigidez com que era conduzido o espetáculo. Dentro da “cancha” a todos podiam fazer agir da forma que bem entendessem, mas pior era a postura da polícia fora dela. Cambistas agiam livremente ao lado de oficiais, e ingressos eram vendidos pelo dobro do preço original sem o menor problema.

E assim seguiram os trabalhos até a bola rolar. Bastaram, no entanto, pouco mais de 10 minutos para começarem os protestos contra o árbitro argentino Hector Baldassi. Contestado pelos tricolores pela atuação na decisão da Libertadores de 2008, ele irritou também os paraguaios, apesar de um pênalti não marcado sobre Conca, e dividiu as reações mais efusivas somente com as defesas do goleiro Barreto na primeira etapa.

Durante o intervalo, nova disputa entre gandulas, marcada também pelo início das manifestações agressivas da torcida do Cerro. Morteiros foram atirados no campo e deram o sinal de que uma derrota do time da casa poderia custar caro. Dito e feito. As primeiras vítimas da ira das arquibancadas após o gol de Fred foram os auxiliares, que sofreram com arremessos de papelões na cabeça. Nada, porém, que interrompesse o espetáculo.

Ao apito final de Baldassi, entretanto, o início de ações deprimentes. Decepcionados, os torcedores do Cerro se dividiram entre a resignação dos que seguiram para casa e os revoltados. Estes permaneceram no local, não tanto à espera da delegação tricolor, mas, principalmente, de Baldassi. A revolta obrigou todos a permanecerem no gramado por cerca de 30 minutos em busca de segurança.

– Nunca vi nada igual. Nem nos tempos de jogador. Estou acostumado a sofrer com garrafa, mijo, mas dessa forma foi a primeira vez – disse um impressionado Branco, com histórico de participação em eliminatórias e amistosos pela seleção por todo o continente.

Sentado no meio-campo, o grupo tricolor ficou de mãos atadas diante da passividade da polícia local e apenas torceu para que a chuva de pedras alçadas pelos torcedores não alcançasse nenhum atleta. E assim seguiu o panorama até que o feitiço virou contra o “amigo” do feiticeiro.

Passivo diante da situação caótica, um policial foi atingido por uma pedra perto da boca, e a chuva de sangue que saiu de seu rosto fez com que o batalhão de choque organizasse um verdadeiro corredor para salvar os brasileiros e o trio de arbitragem argentino. Foi quando todos saíram sob escudo, ato final de um espetáculo que começou com cara de festa em azul e grená, mas terminou repetindo um cenário ainda comum no futebol sul-americano.

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