Terra do estacionamento rotativo

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Capital mineira tem 16.952 locais para o faixa azul, mais que o dobro de Curitiba, a segunda no ranking, com 7.800.

Belo Horizonte pode ser considerada a terra do estacionamento rotativo. Entre as cinco metrópoles brasileiras com população entre 2 e 3 milhões de habitantes – todas com o mesmo problema da escassez de espaço para guardar automóveis –, a capital mineira lidera, com folga, o maior número de áreas nas quais se paga para estacionar.
São 16.952 vagas de faixa azul, mais que o dobro de Curitiba, a segunda no ranking, com 7.800. Para piorar, o sinal está verde para a criação de outros espaços, já que não há nenhuma restrição na legislação. A BHTrans, que gerencia o sistema, pretende amplia-lo ainda mais neste mês de junho.
Presente em quase todas as ruas do perímetro urbano da Avenida do Contorno, a quantidade de faixa azul, em Belo Horizonte, também supera Salvador e Fortaleza, conforme mostra o levantamento feito pelo HOJE EM DIA. Brasília – o quinto município a se enquadrar na mesma faixa populacional de BH –, não possui o sistema de rotativo. Segundo o Detran do Distrito Federal, não há projeto para sua instalação.
Os dados, obtidos nos departamentos municipais de trânsito das capitais, revelam a relação entre a quantidade de carros e o número de vagas. Belo Horizonte, neste quesito, acelera ainda mais e supera até mesmo a cidade com a maior frota do país: São Paulo. Na capital paulista, existem 35 mil vagas de estacionamento rotativo para 6,8 milhões de automóveis. Na ponta da caneta, há uma vaga para cada 194 veículos. Em BH a conta cai de uma para 74.
Para o especialista em trânsito Paulo Tarso Resende, da Fundação Dom Cabral, a diferença exorbitante entre Belo Horizonte e Curitiba – já que as duas possuem praticamente a mesma população e frota de veículos – é explicada pela falta de planejamento. “Curitiba teve, ainda na década de 1970, estratégias urbanas que levaram em consideração o transporte público. Já Belo Horizonte, até a década de 1990, praticamente não pensou no trânsito. Hoje, a capital do Paraná é referência em transporte coletivo. Como aqui isso não acontece, as pessoas preferem andar em seus carros particulares”, analisa Paulo Tarso Resende.
Ainda conforme Paulo Tarso, Belo Horizonte se aproxima cada vez mais do caos no trânsito existente em São Paulo. Segundo ele, a quantidade de vagas rotativas na capital paulista é escassa e, por isso, o número de estacionamentos particulares é enorme. “BH já possui muitos deles (estacionamentos privados) e a tendência é que aumentem ainda mais. Essa é a mais uma prova de que somente investimentos no transporte coletivo podem aliviar o transito”.
O gerente de Coordenação de Mobilidade Urbana de Belo Horizonte, Marcelo Cintra, avalia que os estacionamentos rotativos não podem e não vão resolver o problema do trânsito na capital. Segundo ele, a prefeitura tem feito estudos constantes para melhorar a qualidade do transporte coletivo.
Outra solução seria a criação de estacionamentos subterrâneos ou edifícios-garagem. Já houve, inclusive, um Procedimento de Manifestação de Interesse (PMI) para que empresas interessadas apresentassem projetos. Porém, ele não soube informar quantas se manifestaram e nem como anda o projeto em Belo Horizonte.

Preço da hora na capital é o maior

Outro agravante, identificado na pesquisa junto aos departamentos municipais de trânsito das capitais, é o preço de uma hora parada no faixa azul de Belo Horizonte – o maior entre as outras metrópoles. Em BH, uma folha do rotativo – já com o preço ajustado na segunda-feira passada – custa R$ 2,70. Já na capital do Paraná, o motorista que precisa parar o veículo por um hora paga R$ 1.
Porém, como o faixa azul da cidade mineira tem o mesmo valor para as outras horas, o preço pago para estacionar em vagas de cinco horas é um dos menores, já que também custa R$ 2,70.
O talão com o novo preço do faixa azul já está sendo comercializado desde segunda-feira passada. O estacionamento rotativo teve reajuste de 3,8%. O talão de dez folhas subiu de R$ 26 para R$ 27 e a folha individual será vendida a R$ 2,70, contra os atuais R$ 2,60. Somente com a venda do faixa do rotativo, a BHTrans arrecadou R$ 15,2 milhões em 2009. O reajuste provocou irritação entre os motoristas da capital. O almoxarife José Antônio Alves Filho, 45 anos, contestou o aumento no preço.
“Todo ano tem reajuste. Os salários continuam os mesmos”, reclamou o motorista, que parou o carro, ontem, na Região Hospitalar para esperar a esposa. “Vou ficar aqui no máximo 10 minutos, mas vou ter que pagar exatamente o mesmo valor de uma pessoa que utilizar a vaga para ficar com o automóvel estacionado por cinco horas. Acho isso uma injustiça. O preço deveria variar conforme a utilização da pessoa”, acrescentou.
De acordo com o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), o Código Brasileiro de Trânsito (CTB) é claro no que diz respeito ao funcionamento do estacionamento rotativo. O artigo 24 do CTB informa que compete aos órgãos e entidades executivos de trânsito dos municípios “implantar, manter e operar sistema de estacionamento rotativo pago nas vias”. Na prática, significa que o preço e os locais de implantação ficam a critério das prefeituras ou responsáveis pelo trânsito no município.
De acordo com o diretor de Desenvolvimento de Projetos da BHTrans, o número de vagas de rotativo na cidade respeita a necessidade viária da capital. Ele reconhece que a legislação não apresenta restrições para a criação de outras vagas, mas reforça que todas as mudanças são criteriosas.
“A implantação do estacionamento rotativo depende de uma série de análises prévias, feitas no local. Moradores e comerciantes são sempre ouvidos. A utilização da via, também, jamais é esquecida”. Na segunda-feira, a BHTrans informou que novas áreas serão criadas em outros cinco quarteirões da Região Hospitalar, na Avenida Carandaí.

FONTE: Hoje em Dia

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