A triste história de uma mãe

228
Humberto Pinho da Silva

Por Humberto Pinho da Silva

Em tempo de juventude conheci fascineira, mãe de rapazinho, o qual tinha tanto de graciosidade como inteligência.

Vivia modestamente a viúva, pois viúva era a pobre mulher; mas, acicatada pelas vizinhas, encaminhou o filho para os estudos.

Animada pela vaidade de o ver doutor, prescindiu das escassas moedas que este recebia, como aprendiz de pedreiro, e redobrou o trabalho, obter deste jeito, o bastante para o vestir decentemente e custear os estudos.

O adolescente, bem dotado, sem esforço, completou o liceu e como mostrasse interesse em prosseguir, a mãe, atendeu o desejo, mandando-o cursar Direito, no intuito de vir a levar vida folgada – dizia, – e não ter de trabalhar como ela.

O moço venerava-a, mas com o avançar dos estudos, envergonhou-se dos modos boçais e rudes dizeres da mãe.

Por sua vez, orgulhosa, esta, tecia entusiásticos louvores a imaginários predicados do filho, engendrando verosímeis mentiras, se as vizinhas, condoídas, reprovavam o comportamento do estudante.

Concluída a formatura, a separação foi iminente. O jovem licenciado desgostoso das origens humildes, incomodado com a ignorância e trejeitos plebeus da mãe, rapidamente se apartou, mudando-se para a capital, onde, com antigos colegas advogava.

A espaços telefonava à mãe, aconselhando-a a recolher-se a residencial e para a persuadir prometia-lhe suficientes recursos para dar tal passo.

A velhinha, embrulhando palavras em lágrimas, defendia-se, declarando que sim, que iria para o lar ou asilo, quando as forças lhe faltassem.

Ainda que a solidão em que vivia fosse atroz, a ponto de manter largos solilóquios com as paredes da velha casa, estava apegada ao lugar onde lhe falecera o marido e criara seu menino.

Mas o filho não descansou enquanto não a viu internada, apartada do mundo, num lar, em terra longe de tudo e de todos.

A triste história dessa mãe é idêntica à de muitas, que labutaram drasticamente para criarem os filhos.

Obtida boa posição social, muitos, apartam-se dos progenitores, porque estes tornam-se estorvos que os humilham.

Dizia-me homem, que tudo aprendera na universidade da vida, que dera aos filhos modo de vida e ganhando asas, que voassem.

Pelo que sei todos lhe foram afeiçoados e levou velhice feliz.

[email protected]

FAÇA UM COMENTÁRIO

Por favor digite um comentário
Por favor digite seu nome aqui