Após 8 anos, balança pode ter déficit

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Saldo nas primeiras 3 semanas do ano é negativo (US$ 390 milhões), fato que não ocorria desdejaneiro de 2001
Renée Pereira – especial para o Jornal das Montanhas.
A crise da economia mundial, aliada à escassez de crédito, acelerou de forma acentuada a queda das exportações brasileiras e acendeu um sinal de alerta na indústria e no governo. Entre agosto e dezembro do ano passado, 18 setores da economia, responsáveis por 76% das vendas externas, viram suas receitas de exportação encolher 30%, apesar da alta de 49% na cotação do dólar, revela estudo feito pelo Departamento de Competitividade e Tecnologia da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp). Em volume exportado, a queda ficou na casa de 20%.
O movimento persistiu nos primeiros dias de 2009 e assustou o governo. Até a terceira semana de janeiro, o saldo da balança comercial apresentava déficit de US$ 390 milhões, fato que não ocorria no País desde janeiro de 2001. Na semana passada, até quinta-feira, o resultado acumulado havia piorado. A esperança é que o movimento desta última semana consiga compensar parte das perdas.
Mas a possibilidade de janeiro terminar com déficit aumentou. Se isso ocorrer, o País vai romper uma série 93 meses de superávits consecutivos. “Foi um susto. Esperávamos um resultado ruim, um superávit pequeno, mas não um déficit já nas primeiras semanas do ano”, destaca o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto Castro.
No período, as exportações recuaram 31% em relação a igual período de 2008 e as importações, 22%. Na avaliação de Castro, esses dados revelam um primeiro trimestre bastante complicado. Segundo as previsões da AEB, antes do resultado das primeiras semanas, as exportações brasileiras terão queda de 17,6% em 2009, para US$ 163 bilhões, e as importações de 15,7%, para US$ 146 bilhões. Apesar disso, o saldo continuará positivo, mas com recuo de 30,8%.
O secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Welber Barral, confessa que o cenário não é nem um pouco “cor-de-rosa”. “Além da sazonalidade, o resultado da balança comercial tem sido afetado pela queda expressiva na demanda mundial.”
O estudo da Fiesp mostra bem esse efeito. A extração de minerais metálicos, por exemplo, responsável por 9,7% das exportações brasileiras, teve uma queda de 45,8% nas exportações entre agosto e dezembro. Já as vendas do setor de metalurgia básica despencou 42% no mesmo período. Embora o segundo semestre seja de exportações menores, a queda dos dois setores ficou bem acima da verificada em 2007, de 6,5% e 2,8%, respectivamente.
Na opinião de Barral, o cenário para o comércio exterior brasileiro pode ficar um pouco mais claro a partir de abril e maio, quando começa a safra. Até lá, é provável que o comércio exterior tenha resultados bem piores que o resto da economia. O ministério ainda não estabeleceu uma meta para as exportações deste ano por causa dos efeitos imprevisíveis da crise, principalmente no primeiro trimestre. Por isso, o governo desenhou cinco cenários.
No melhor deles, as exportações vão atingir US$ 202 bilhões e no pior cenário, US$ 158 bilhões. O alento é que as importações também devem cair por causa da queda na atividade doméstica, afirma o economista-chefe da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), Fernando Ribeiro. O que garante o superávit anual.

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