Feiras livres agregam consumo, cultura e confraternização

238

 Embora os grandes supermercados e shoppings ganhem cada vez mais espaços nas cidades, um antigo hábito permanece inabalável na vida dos mineiros: o de ir à feira. Trata-se de um antigo comércio ao ar livre que acompanha a história da humanidade e nunca sai de moda. Assim como as vitrines, as feiras mudam a cada estação, a cada geração. É o que aponta pesquisa feita por uma equipe multidisciplinar da Universidade Federal de Alfenas, no Sul de Minas, coordenada pelo professor Marcelo Lacerda Rezende, com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig).

O grupo percorreu cidades polo da região, como Alfenas, Três Pontas, Pouso Alegre, Itajubá, Poços de Caldas e São Lourenço, para fazer uma radiografia dos aspectos comercial e, principalmente, social da atividade. Constatou-se que a feira, além de ser procurada por causa das verduras frescas e frutas de época vindas diretamente do campo, oferece outros atrativos para a população.

“A principal surpresa foi constatar que a feira é um ambiente que vai além da questão da compra, com forte interação entre as pessoas”, comenta Rezende. Engana-se quem pensa que feira serve apenas para escoamento de produtos agrícolas. Os espaços são divididos com artesanato, roupas e até com religião. “Encontramos um pastor que vai à feira todo domingo para pregar e atender os fiéis da igreja dele”, lembra o professor.

A origem das feiras livres remete ao tempo do escambo, das trocas comerciais. Os produtos que sobravam nas propriedades rurais eram negociados com os vizinhos, mas com o aumento da demanda houve a necessidade da designação de um ambiente próprio para o comércio.

De acordo com a pesquisa, 90% do público que passa por uma feira, volta para casa com algum produto. Apesar da importância comercial, o estudo destaca que o comércio ao ar livre tem ganhado, cada vez mais, fortes contornos sociais e culturais. “A feira representa um pouco da sociedade daquela cidade. É quase uma mostra do que esta acontecendo ali e aí essa parte da cultura a gente vê muito presente. Às vezes tem música, apresentação cultural, pessoas divulgando campanhas de prevenção contra doenças”, explica Rezende.

Metodologia da pesquisa

O estudo das feiras no Sul de Minas começou em 2007 e é baseado em entrevistas com os organizadores nas prefeituras dos municípios visitados. Além disso, também foram realizadas pesquisas de opinião com 50 frequentadores em cada cidade. O objetivo era identificar o perfil do socioeconômico do consumidor. De acordo com Marcelo Rezende, a feira reúne elementos suficientes para traçar a identidade de um povo.

A partir da análise dos dados foi possível concluir que o público das feiras nessas cidades é bastante heterogêneo em relação à idade, renda, escolaridade e profissão. A média de idade varia entre 43 e 52 anos e a renda das famílias é, em média, superior a R$ 1,5 mil.

Os produtos mais procurados, em todas as cidades, são as verduras e legumes. As frutas são procuradas por mais de 90% dos consumidores, menos em Três Pontas, que registrou apenas 56,25%. “Essa diferença no consumo de frutas em Três Pontas foi uma das particularidades. Percebemos que lá as pessoas encontraram alternativas para o consumo do produto. Já em Poços de Caldas detectamos grande participação de turistas”, pontua Rezende.

Apesar de a pesquisa não ter abrangido Belo Horizonte, ninguém duvida que a situação é a mesma. Há locais onde, além de comprar hortifrutigranjeiros, os frequentadores aproveitam para curtir uma cervejinha com tira-gosto, como o tradicional torresmo mineiro, caldos e muito mais.

Alerta à saúde

Mesmo com a variedade de atividades possíveis em uma feira, o estudo desenvolvido no Sul de Minas mostra que o consumo ainda é o mais forte. “Pode-se perceber que nas seis cidades estudadas, mais de 90% dos passantes são consumidores”, assegura o coordenador da equipe, no relatório final do trabalho.

O alto percentual de consumo pode ser associado à ideia de que a feira é um local propício à obtenção de alimentos que proporcionam uma alimentação saudável, o que não é totalmente verdade. O estudo alerta para a falta de fiscalização nas feiras livres das seis cidades visitadas.

“Tivemos a oportunidade de ver alimentos prontos, mas não a fiscalização. Não há garantia do que está sendo vendido ali. Estudos como estes são fundamentais para subsidiar políticas de saúde e nutrição. Somente assim será possível estabelecer estratégias de atuação tanto no campo econômico como no social”, conclui Rezende.

 

 

 

Agência Minas

FAÇA UM COMENTÁRIO

Por favor digite um comentário
Por favor digite seu nome aqui