História da família do Reverendo Cícero Siqueira

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Devair Guimarães, entrevistando a Dra Clícia filha do saudoso Reverendo Cícero Siqueira, no centenário do Colégio Evangélico - Alto Jequitibá 5/09/2009

Dra Clícia Siqueira Labrunie, foi aluna professora e diretora do Colégio Evangélico de Alto Jeqitibá. Atualmente reside em Vitória Espírito Santo, muito amável concedeu-nos esta entrevista.
Jornal das Montanhas – Eu gostaria que a senhora falasse um pouco sobre a família Siqueira e o que levou a escrever o livro “50 anos depois”.
Dra Clicia – Nossa família veio do Nordeste, éramos 8 filhos, seis homens e duas mulheres. O reverendo Cícero e a Dona Cecília sempre foram pessoas muito corajosas, imagine ter 8 filhos um atrás do outro, viajaram de Recife para Alto Jequitibá com todos os filhos, sendo que mamãe ainda trazia um na barriga que nasceu em Alto Jequitibá.
Aqui é o colégio, meu pai veio para ser pastor da igreja, mas como o colégio estava com dificuldades devido a crise econômica ia fechar, meu pai disse não fecha, então ele tornou-se diretor do colégio e minha mãe lecionava sem receberem nada, o colégio já não tinha mais alunos, mas ele continuou, ultrapassou a crise e o colégio encheu, tivemos 500 alunos internos e 150 moças. Me formei professora e com 16 anos eu já lecionava no colégio, eu lecionava Inglês, Francês e Matemática, minha mãe Inglês, História e Português, meu irmão mais velho lecionava História e Matemática posteriormente se tornando Inspetor Federal de Ensino. Eu escrevi esse livro no ano passado pois eu completei 50 anos de casada, a minha história é muito interessante pois eu casei por procuração, eu estava aqui e meu noivo estava, fazendo mestrado na França, então ele queria que eu fosse para lá, mas papai disse: “Daqui só sai casada”. Aí eu casei por procuração e fui me encontrar com ele em Portugal pois ele foi lecionar em um seminário em Portugal onde eu também lecionei, ficamos um ano em Portugal. Saímos de Portugal e fomos para os EUA para o meu marido fazer doutorado, e eu lá nos EUA como eu era Inspetora Federal de ensino visitava as escolas para saber como eles faziam a inspeção escolar lá e mandava uma vez por mês um relatório para o diretor do ensino secundário, de modo que eu estava a trabalho lá, tanto em Portugal como no EUA.

Eu me casei por procuração e fui para o Rio, e lá eu fui tirar o visto de Portugal, pois meu marido estava me esperando em Portugal, aí a moça do visto me entregou o papel para eu preencher, então estava escrito lá religião católica, não posso colocar católica pois eu não sou, mas eu só poderia entrar em Portugal se eu fosse católica e eu me neguei a colocar como católica. Eu procurei o diretor do ensino secundário, contei a história para ele, então ele arrumou um jeito de me mandar a trabalho para Portugal, então eu recebi um passaporte para entrar em Portugal sem precisar do visto e fui para Portugal. Como nós estávamos fazendo 50 anos de casado eu escrevi o livro. O livro tem três partes, a primeira parte são poesias minhas, a segunda são poesia de minha mãe e na última parte são prosas, então tem trabalhos de meu marido, de outras pessoas, e também trabalhos meus. E hoje eu lanço um novo livro que fala sobre o meu irmão mais velho, o livro chama-se “Homem de Deus professor Cleantro Rodrigues de Ciqueira, discípulo de Cristo”, este livro também é dividido em três partes, a primeira fala sobre o Cleantro, a segunda é ele falando e a terceira chama-se memória fotográfica, são retratos.

JM – De onde veio a formação de seu pai?
Dra Clicia – O meu pai era filho de um carpinteiro e a mãe dele era mestiça, filha de português com índio, ele nasceu em um lar pobre, mas seus pais se converteram ao protestantismo então eles quiseram que ele estudasse num seminário, ele foi estudar no seminário que ficava em Guaranis, ele teve tudo de graça lá, meu pai era um grande orador. O meu avô paterno era filho de holandeses, ele era muito louro com olhos azuis. Ele estudou e foi ser pastor de uma grande igreja em Canhotinhos e lá nós nascemos. Ele ganhava pouco como pastor, mas como papai era muito bom cidadão um dia papai foi convidado para ser advogado de um condenado, ele se destacou, o juiz gostou e papai começou a ganhar dinheiro com isso, mas minha mãe queria que ele fosse pastor, ele foi convidado para vir pastorear em Alto Jequitibá e aceitou. No dia que chegamos aqui tinha uma banda de música na estação nos esperando, tinham preparado nosso almoço, toda essa festa para o novo pastor.
JM – Qual a mensagem que a senhora gostaria de deixar para os nossos leitores?
Dra Clicia – Procurem adquirir os livros, foram escritos com muito amor, o livro sobre o professor Cleantro é muito importante, pois tem a tese de doutorado dele, quem leciona deveria adquirir este livro pois ganhará muito com isso, já o outro livro é um livro para quem gosta de poesia, poesias minhas e de mamãe, muito belas.

Um pouco da história da família do Reverendo Cícero Siqueira, extraído do livro “50 anos depois” autora Dra Clícia Siqueira Labrunie.

“Eventos que Clícia considera mais importante em sua caminhada”

1926 – Em 20 de março, nasce em Canhotinho, Pernambuco, sétima filha do casal D. Cecília e Reverendo Cícero Siqueira que teve nove filhos, sendo sete homens e duas mulheres.

1929 – Chega a Alto Jequitibá, Minas Gerais, onde seu pai Reverendo Cícero, será por 34 anos pastor da Igreja Presbiteriana local e diretor do Colégio Evangélico pertencente à esta Igreja.

1941 – Faz pública profissão de fé na Igreja Presbiteriana de Alto Jequitibá.

1944 – Termina o Curso Científico no Colégio Evangélico, onde já é professora.

1950 – Conclui, com seu irmão mais velho, Cleantho, o curso de Bacharel em Direito pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro – UERJ.

1954 – Aprovada em concurso público, é nomeada Inspetora Federal de Ensino pelo Ministro da Educação

1957 – Casa-se por procuração, com o Reverendo Claude Emmanuel Labrunie, ele na França, ela em Alto Jequitibá. A cerimônia religiosa realiza-se no Seminário Presbiteriano de Carcavelos, em Lisboa, Portugal. Nesse mesmo ano, na qualidade de “Obreira Fraternal” (Missionária) leciona as seguintes disciplinas: Educação Cristã, Dramaturgia religiosa e Recreação para Crianças e Jovens.

1958 – Reside durante um ano nos EUA, com seu esposo, Reverendo Claude, que inicia seus estudos de Doutorando no Seminário Presbiteriano de Princeton, freqüentando Clícia, nessa ocasião, o curso de Dramaturgia Religiosa no Seminário Unido de Nova Iorque. Nesse mesmo ano, visita pela primeira vez a França, terra dos avós de seu marido, e participa com ele, de um Encontro da Federação Mundial de estudantes num chalé nos Alpes franceses, e visita a Primeira Exposição das Mulheres da Suíça em Zurique.

1961 – Nasce em Alto Jequitibá seu primeiro filho, Charles.

1963 – Ocorrendo o falecimento de seu pai, Reverendo Cícero Siquerira, assume a direção do Colégio Evangélico de Alto Jequitibá, com outros dois professores.

1964 – Nasce em Alto Jequitibá sua filha, Nelly. Nesse ano transfere-se novamente para os EUA, onde reside com seu marido, seus filhos e a auxiliar Dinorah, em Princeton, onde seu marido conclui Doutorado em Filosofia e teologia.

1966 – Encerra suas atividades no Colégio Evangélico, onde lecionou as disciplinas História, Inglês, Francês e Matemática e participou de sua administração por mais de 20 anos, transferindo-se com sua família para Vitória, ES, a fim de acompanhar seu marido, então professor no Seminário Teológico presbiteriano do centenário. Leciona Inglês e Português na referida instituição. Como membro da Primeira Igreja Presbiteriana de Vitória torna-se, desde então, professora da Escola Dominical.

1968 – No dia do professor morre Dona Cecília Rodriguez de Siqueira, Alto Jequitibá, encerrando a vida da qual 60 anos foram dedicados ao magistério.

1969 – Organiza com a irmã Cleuza, da Ordem Agostiniana da igreja Católica, o Grupo Ecumênico Feminino de Reflexão e Oração GEFOR.

1971 – É indicada pela Fundação Cultural do governo, para representar o estado do Espírito Santo, no Segundo Congresso Nacional de Poetas, em Goiânia, Goiás. Nesse mesmo ano recebe o título de Cidadã Alegrense, que lhe é oferecido pela Câmara Municipal de Alegre pelos relevantes serviços prestados àquele município, quando da criação da Faculdade de Filosofia, Ciências e letras.

1976 – Participa da Primeira Igreja presbiteriana Unida de Vitória do Culto em Ação de Graças, pelos seus 50 anos, sendo o pregador o Prof. Cleantho Siqueira e tomando parte o Arcebispo de Vitória, Don João Baptista da Motta Albuquerque.

1977 – Publica seu primeiro livro de poesias, Transcendência.

1978 – Comparece ao lançamento de seu livro de poesias Transcendências na Livraria Evangélica da Igreja Presbiteriana de Copacabana na cidade do Rio de Janeiro.

1979 – É delegada mais votada para integrar o segundo Conselho Coordenador da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil – IPU, assumindo o cargo de Vice-Moderadora. Nesse mesmo ano é eleita Presidente da CIERES – Comissão Interconfessional para Ensino Religioso no Espírito Santo.

1983 – Passa um mês em Cingapura na Ásia, participando do curso do Instituto Haggai para formação de líderes cristãos, viajando em seguida para o Japão, estando em Tóquio, e pelos EUA, visitando várias cidades do Sul. Prossegue em seguida para Vancouver no Canadá, onde apresenta a documentação oficial da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil para sua filiação ao Conselho Mundial de Igrejas, ali reunido em Assembléia Geral. Até hoje é a única igreja Presbiteriana brasileira membro do CMI.

1985 – Participa na Holanda do Simpósio da Comissão de Assuntos Internacionais do Conselho Mundial de Igrejas, pregando na ocasião em Igreja Reformada dos Países-Baixos.

1986 – Participa na 1ª Igreja Presbiteriana de Vitória de Culto de Ação de Graças pelos seus 60 anos.

1987 – Casa sua filha Nelly com o professor Armando Mário Martinelli, sendo a cerimônia ecumênica celebrada pelo Arcebispo Dom Silvestre Scandiam e o Ver. Claude, na Paróquia de Santa Rita.

1988 – Casa seu filho Charles com a Professora Maria das Graças (Gal) Vaz Lino na Igreja Presbiteriana do rio de Janeiro, sendo celebrante o Ver. Claude.

1990 – É eleita Presbítera da 1ª Igreja Presbiteriana Unida de Vitória.

1991 – Nasce seu primeiro neto, Cristiano, filho de Charles e Gal.

1993 – Nasce seu segundo neto, Mateus, filho de Charles e Gal.

1995 – É reeleita presbítera na ª IPU de Vitória. No mesmo ano sua filha Nelly é nomeada Juíza de Direito após concurso público em que foi aprovada em terceiro lugar. Ainda em 95 participa na cidade de Salvador, como observadora, da IXª Assembléia Geral da IPU, com satisfação de ter participado até aquela data, de todas as Assembléias Gerais de sua denominação.

1996 – É eleita Vice-Moderadora do Conselho de Presbíteros da 1ª IPU de Vitória, e Moderadora de sua Sociedade Auxiliadora Feminina pela 5ª vez. Participa ainda em sua Igreja do Culto em Ações de Graça pelos seus 70 anos, sendo mensageiro o Reverendo Paulo Roberto Ruckert, e liturgista o pastor local Reverendo Joãozinho Thomaz de Almeida.

2004 – É eleita Presbítera Emérita em sua 1ª IPU de Vitória.

2005 – Participa como representante de sua Igreja da XIV Assembléia Geral da IPU no Rio de Janeiro, na qual foi eleito seu pastor, Reverendo Manoel de Souza Miranda, Moderador do Conselho Coordenador da IPU. Além disso, comparece ao Encontro Ecumênico Nacional de Mulheres, em São Paulo e ao III Congresso Nacional de Ensino Religioso em Florianópolis.

2006 – Como Sócia Fundadora do Conselho Nacional do DMO no Brasil, participa da XII Assembléia Geral do Dia Mundial de Oração, reunida em Curitiba (PR).

2007 – Comemora com seu marido, o Ver. Claude, suas bodas de ouro. Lança seu livro de poesia e prosa, 50 anos depois.

“Até aqui me tem ajudado o Senhor, por isso estou alegre e agradecida.”

Autorizado pela a autora em entrevista concedida a reportagem do Jornal das Montanhas em Alto Jequitibá no sábado 05 de setembro de 2009

7 COMENTÁRIOS

  1. Fiquei comovida com essa entrevista.
    Passei um pouco da minha infância em jequitibá.Meu pai trabalhou como cozinheiro no predio do internato do colegio.Meus irmão estudaram no colégio.Qd eu sai de lá tinha 7 anos,mas os meus irmão ficaram pra terminar os estudos no ano de 1964.Tenho muitasaudades.Meu pai se chamava Fekisberto da silva.Nós moravamos em uma casa pertecente ao colegio e eramos vizinhos da D. Haydé e do sr.Celio Sirqueira.Gostaria muito de saber onde esta a filha deles,q foi minha melhor amiga de infância.Qualquer noticia me escrevam.Abraços e obrigada.
    Sonia Dias.

  2. Prezados, Gostaria muito de saber do paradeiro de Armando Martinelli (ou de seus descendentes) que em 1976 morava em Goiânia, GO e tinha uma Escola de Inglês Yázigi. É muito importante que eu o encontre (ou algum de seus descendentes). Sei que na época ele tinha (pelo menos) duas filhas moças. Grato, Prof. Wilson Taveira (Universidade Tecnológica Federal do Paraná)

  3. Gostaria de saber o que dra. Clicia sabe sobre a familia BUSSINGER. Estou fazendo a árvore genealógica e a história da familia.

    Como vocês podem me ajudar?

    sou filha de Cidáli Bussinger de Oliveira, a qual o REv. Cícero muito ajudou….

  4. Meu nome é Debora Faria de Melo, filha do Rev. José Ferreira de Melo Jr e Guilhermina Faria de Melo (Minha mãe é Sathler). Ler essa entrevista feita com a Dra. Clicia trouxe alegria ao meu coração por trazer à minha memória a minha infância. Em Jequitibá vivi até os 7 anos de idade, mas consigo me lembrar do Rev. Cicero, quem me batizou, e da D. Cecilia e toda a família por quem tenho muito respeito e excelentes lembranças. Muito obrigada!

    • Oi Debora,
      Muito obrigado por apoiar o nosso jornal, para mim foi um prazer neste dia entrevistei vários ex alunos que estavam lá lançando livros ou matando a saudade dos colegas.
      Então debora fique a vontade quando quiser pode mandar alguma matéria que publicamos. Eu nasci e fui criado no Distrito do Prata e lá tive grandes amizades com a família do Sr. José Garcia e dona Lolô, que tiveram vários filhos, tenho vários amigos (as) com sobrenome Sathler.

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