Jovens em busca de melhores condições de vida

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Os diplomatas, segundo Lage, estão na cidade de Reynosa, onde recebem informações sobre o andamento das investigações. (Foto divulgação

A realidade brasileira é bem diferente do que normalmente vemos nas propagandas dos políticos, o Brasil real  é este que está sendo mostrada pelo Jornal Nacional. Cidades onde faltam quase tudo: emprego, saúde, saneamento básico. A falta de perspectiva faz jovens como estes dois mineiros que estavam entre os 72 encontrados no último dia 22.

Cansados de ganhar R$ 20 por dia trabalhando na lavoura, Juliard Aires Fernandes, 20, e Hermínio Cardoso dos Santos, 24, pediram dinheiro emprestado, fizeram as malas, abandonaram suas cidades no Vale do Rio Doce e seguiram rumo aos Estados Unidos. O que não esperavam é que a viagem seria interrompida no México, quando foram vítimas de uma chacina, um deles se espelhou em dois irmãos que moram em solo norte-americano

Juliard era de Santa Efigênia de Minas (com cerca de 4.500 moradores) e Hermínio, de Sardoá (cerca de 5.500) – cidades distantes apenas 10 km e que têm em comum o alto índice de moradores que partem para os EUA na expectativa de conseguirem uma vida melhor. As duas cidades são vizinhas também de Gonzaga, terra do eletricista mineiro Jean Charles de Menezes, morto em 2005 no metrô de Londres pela polícia ao ser confundido com um terrorista. Os dois não fugiram à regra: eram jovens, interromperam os estudos e desde muito cedo trabalhavam pesado.

Segundo Maria José Aires de Andrade, 42, prima de Juliard, o jovem tinha em quem se espelhar. Dois dos nove irmãos dele se arriscaram pelas fronteiras do México e hoje vivem em território norte-americano. “As pessoas aqui crescem pensando em ir para fora do país. O problema é que acabam tendo que ir de forma ilegal”, conta.

Juliard e Hermínio sabiam do risco que corriam, mas preferiram arriscar. Antes de partirem, passaram na casa dos familiares se despedindo. Segundo Maria José, era nítida a apreensão dos jovens. “Eles eram colegas e organizaram a viagem juntos. Quando foram me dar tchau, eles estavam felizes e com medo. Todo mundo sabia que eles poderiam ser presos, mas não dava para pensar que iam morrer”. Ela pediu aos dois que não fossem, mas eles disseram que receberam garantia de que chegariam bem ao destino. O acordo era que, assim que pisassem em solo norte-americano, pagariam o valor acertado.

Além dos mineiros, outras 70 pessoas tiveram o sonho interrompido com a chacina no último dia 22. As autoridades mexicanas dão conta de 58 homens mortos e 14 mulheres, incluindo algumas crianças e uma grávida. Eles foram colocados enfileirados, em uma parede de um galpão de uma fazenda em San Fernando, no Estado de Tamaulipas.

O grande desafio das autoridades agora é o reconhecimento e o traslado dos corpos. O prefeito de Sardoá, Edvaldo Carvalhais de Souza, promete ajudar no que puder. “Já vamos entrar em contato com as autoridades para ver os trâmites legais. A prefeitura já está se preparando para receber o corpo e atender a família da forma que for preciso”, disse. O prefeito promete dar assistência psicológica à família do jovem.

Sonho. Os moradores de Sardoá e Santa Efigênia de Minas contam que, como não há muitas alternativas de trabalho na região, o plano de migrar para os Estados Unidos é comum. “As pessoas acabam seguindo o caminho dos parentes que já estão por lá”, diz o desempregado Moacir Costa, 33 anos de Sardoá.

O prefeito confirma que a motivação para os jovens se arriscarem é a falta de oportunidade. “Aqui falta mão de obra qualificada. Então só sobram para eles os trabalhos braçais, mal-remunerados. Como vários já foram, as pessoas crescem com a ilusão de que o melhor é ir para os Estados Unidos”, disse.

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