Moradores da região serrana do Rio ainda não sabem como recomeçar

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O cenário é de destruição e os relatos de pavor. Alguns dias depois da enchente que devastou boa parte do município de Nova Friburgo, na região serrana do Rio, muita gente ainda não sabe o que vai fazer para tocar a vida.

Alguns, como a professora Norma Sueli Nogueira, moradora do bairro de Santa Bernadete, um dos mais atingidos pelas chuvas, querem deixar a cidade o mais rápido possível, mesmo que isso signifique abandonar o que restou de sua casa e a história que construiu ao longo de mais de 20 anos vivendo na região. Descalça, com os pés totalmente sujos de barro e emocionalmente abalada, ela disse que viveu momentos de desespero durante a tragédia.

“A minha casa não foi derrubada, mas isso aqui é só destruição. Além disso, se a casa do meu vizinho da rua de cima cair, ela vem pra cima da minha e aí o estrago vai ser maior”, contou ela, que disse estar tentando transporte para o município de São Fidélis, também no interior do estado, onde tem parentes.

Perto da casa da professora, as marcas da catástrofe estão espalhadas. Postes tombados, fios arrebentados, enormes pedras que rolaram arrastando tudo o que estava pela frente, carros virados de cabeça para baixo, muros destruídos, paralelepípedos arrancados pela força da água e casas ainda soterradas pela terra que desceu das encostas.

Outro morador do bairro, o estudante Luan Knupp, de 17 anos, narrou com lágrimas nos olhos o dia em que tentou virar heroi. Ele tirou dos escombros, em meio à escuridão, uma criança de três anos, ainda viva.

“Eu pisei na mãozinha dela e percebi que ali tinha alguém. Não dava para ver nada direito porque estava tudo muito escuro, mas a cada relâmpago a gente tinha uma pequena ideia do que estava à nossa volta. Comecei a cavar e consegui tirá-la da terra. Coloquei a menina no meu ombro e a carreguei até um hospital particular aqui perto. Mas quando chegou lá, ela não resistiu”, lamentou.

O acesso de carro à região só foi liberado hoje (16), mas em alguns pontos ainda é difícil trafegar por conta da lama que toma conta de pistas e calçadas. Policiais militares tentam organizar o trânsito na localidade, alterando as mãos das ruas e permitindo retornos onde antes era proibido.

Nos morros, muitas casas ainda estão visivelmente em locais de risco, à beira de barrancos em regiões já atingidas por deslizamentos de terra.

O aposentado Natal da Silva, morador, há 40 anos, de São Geraldo, bairro vizinho também bastante devastado, disse não acreditar no que vê. “Ali para baixo tem geladeira, televisão e pelo menos uns cinco carros soterrados, que foram arrastados como se fossem de brinquedo”, disse apontado para a parte baixa da rua onde mora.

“É muito triste, nunca pensei que isso aconteceria porque essa não era considerada uma área de risco e foi tudo por água abaixo”, acrescentou.

Boa parte da região continua sem os serviços de luz e de água e os moradores reclamam do aumento nos preços de velas, alimentos e do butijão de gás.

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