Moradores da Rocinha acreditam que a favela será o novo alvo da polícia

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Sol escaldante, ruas movimentadas e comércio aquecido. O Rio de Janeiro está voltando ao normal. Passada a onda de ataques incendiários comandados por traficantes e com a vitória decretada sobre o quartel general do tráfico na Penha e no Complexo do Alemão, o carioca respira aliviado. Mas paira uma pergunta polêmica: estará chegando a vez de a Rocinha, uma das principais fontes de renda do tráfico de drogas na Zona Sul da cidade, ficar livre do poder paralelo? A expectativa é de que sim. Mas, por enquanto, na comunidade, aparentemente a vida segue normal. Obras do PAC a mil por hora, movimento intenso de motos na Estrada da Gávea, comércio funcionando normalmente e traficantes armados em seus postos, na Rua Um, uma das principais vias de acesso à favela. No entanto, em relatos de moradores que pediram para não serem identificados, a aparente normalidade na favela entra em xeque. “Há uma grande quantidade de bandidos armados na comunidade, mais do que o normal. Estamos assustados e com medo”, diz um deles.

Há até quem esteja de malas prontas para abandonar sua casa e evitar o risco de ficar no meio do fogo cruzado. Ocimar Santos, diretor do portal rocinha.org, da associação de moradores da comunidade, confessa que os rumores de uma grande operação policial alterou a rotina na Rocinha. “O temor existe. Desde a invasão de bandidos no hotel Intercontinental (em 21 de agosto deste ano), criou-se a expectativa de uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) na comunidade. Não tenho andado muito pela favela, mas ouvimos falar que bandidos de outras comunidades estão refugiados aqui. Há boatos sobre invasão, que vai ter guerra. Mas estamos acostumados com isso. O policiamento é o mesmo de sempre nos acessos à favela.”

Bairro nobre

A Rocinha está em São Conrado, bairro cujo IPTU é um dos maiores da cidade. Certamente uma operação teria influência direta em milhares de pessoas das classes média e alta do Rio. Nem por isso é vista com maus olhos pelos vizinhos da comunidade. “Isso não sai da minha cabeça, seria muito bom, apesar do medo que dá. Viver ali é um inferno, tenho medo de virar refém em uma operação como essa”, conta o músico Daniel Romano.

O engenheiro André Moreno é nascido e criado na comunidade Vila das Canoas, também em São Conrado. Morador de Ipanema, ele não hesita em apoiar uma ação policial na Rocinha. “O discurso fascista de que tem que matar todos os traficantes não leva a nada. As autoridades foram corretas, deram o direito de os marginais se renderem. Mesmo por se tratar de operação traumática, por ser na Zona Sul, é hora de dar um basta”, analisa.

Correio Braziliense

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