Moradores de Teresópolis reclamam da demora na recuperação do local

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Há um ano da tragédia que deixou cerca de 900 mortos na região serrana fluminense, moradores do bairro de Santa Rita, um dos mais afetados na cidade de Teresópolis, cobram obras nas vias de acesso, inclusão no aluguel social e denunciam que motoristas de caminhões do governo do estado trocam o trabalho por partidas de futebol.

Localizado na zona rural, Santa Rita foi um dos bairros que ficou isolado logo depois das chuvas de janeiro de 2011. Para o resgate das cerca de 50 vítimas, helicópteros foram usados nos primeiros dias. Hoje, os acessos estão desobstruídos, mas ainda em condições precárias. Há sinais de deslizamentos de encostas, pontes destruídas ou precárias, buracos e muita lama.

Segundo os moradores, as chuvas desse ano agravaram as condições da estrada de chão, cuja recuperação já andava a passos lentos. Os primeiros problemas começaram ainda em 2011, quando funcionários de empreiteiras contratadas vendiam óleo diesel dos caminhões a terceiros. Na época, também cobravam dos sobreviventes a abertura de acessos às casas que resistiram.

Após alguns meses de paralisaçãao no ano passado, de acordo com os relatos, o trabalho foi retomado neste ano. Desde então, mesmo em dias em que não chove, motoristas de máquinas e caminhões do governo estadual e de empreiteiras são flagrados pelos moradores deixando a obra de lado para jogar bola em um campinho em um haras que fica na região.

“Param as máquina em uma fazenda, deixam escondidas e vão jogar bola”, denuncia Amauri de Souza, 39 anos, que mora com a esposa e a filha na casa do irmão, já que a sua foi arrastada. À noite, conta, um caminhão branco, fazendo muito barulho, também estaciona em frente a um bar. “O que um carro do governo faz lá meia-noite?”, completa, sugerindo mau uso do veículo.

Com a situação precária da estrada, os moradores também reclamam da falta de regularidade da coleta de lixo, do serviço de ônibus e do risco de vida que correm. “Teve um dia que a van escolar engasgou dentro da água. O motorista se viu doido para tirar o monte de criança [do carro] e atravessar para o outro lado. Dia de chuva não dá para mandar criança para escola”, desabafou Amauri.

O lixo também é uma das principais reclamações de Vanessa de Lima, 21 anos. “A lixeira está uma pouca vergonha, não cabe mais nada. Como fica do lado do ponto de ônibus, a gente pega ônibus fedendo.”

Ela também relata que o marido e o sogro, quando necessário, desobstruem a entrada da casa, que se fecha com o barro trazido pela água represada por uma ponte.

Para os moradores que insistem em continuar em Santa Rita – a maioria porque não foi incluída no pagamento do aluguel social de R$ 500 – uma dragagem nos rios da região também é urgente.

“Nada aqui melhorou. Tem condições de, em um mês, uma máquina abrir só 150 metros de um rio? A gente vê as máquinas trabalhando, mas nesse ritmo… Chovendo, agora, fica mais difícil. Dá para ver”, diz José Marcos Mesquisa, 39 anos.

A casa dele foi levada pela chuva, mas José conseguiu se salvar com a esposa e a filha. Atualmente, recebem o aluguel social e vivem no município de Três Rios, com esperança de um dia pode voltar. “Eu venho aqui ver se o rio ainda sobe, se a água baixou. Esse terreno é do meu pai, ele comprou, deixou para mim. Queria poder ter minha casa de novo”, destacou.

Em Santa Rita, não há sobrevivente que não tenha perdido parente, vizinho ou amigo na tragédia de 2011. No ponto mais crítico do deslizamento, na várzea do rio, há uma grande quantidade de árvores e dois carros arrastados, além de casas destruídas.

Hoje o governo do estado anuncia um pacote de obras de recuperação ambiental no valor de R$ 256 milhões para os municípios serranos de Nova Friburgo, Teresópolis e Petrópolis, que incluirão dragagens e drenagens, como pede o bairro de Santa Rita.

Sobre as reclamações dos moradores em relação aos motoristas de máquinas e caminhões, a Secretaria de Obras informou que o cronograma das intervenções no local está dentro do previsto e pede que as queixas sejam encaminhadas para o gerente, no local. A prefeitura de Teresópolis não respondeu à Agência Brasil.

Agência Brasil

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