Represa pode impulsionar economia de Iguape

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Uma das maiores expectativas em relação à Barragem do Valo Grande é que a obra impulsione economicamente a cidade de Iguape, no litoral sul de São Paulo. A interrupção do fluxo de água doce no estuário deve possibilitar a recuperação dos mangues da região e a reprodução de maior variedade de peixes e crustáceos.

Construído como um atalho para o transporte de arroz até o Porto de Iguape, o canal do Valo Grande tinha inicialmente 4,4 metros de largura e aproximadamente 4 quilômetros de extensão. Ao longo de cerca de 150 anos, desde a sua abertura, a força das águas do Rio Ribeira aumentou a largura do canal para 200 metros. A grande infiltração de água doce reduziu expressivamente as áreas de mangue.

Com o barramento do fluxo proveniente do rio, a região retomará parte das características originais e  poderá abrigar culturas de valor comercial, como ostras, camarões e mexilhões. O diretor da Divisão de Meio Ambiente da prefeitura de Iguape, André Gimenez, lembra que em Cananeia, outro município da região, existem diversas atividades econômicas que giram em torno dos manguezais. “Lá, com a salinidade alta, há o cultivo de ostras e outras atividades”, destaca.

Entre os setores que também se beneficiariam está o turismo. Wagner Yoshimi tem uma pousada que recebe pescadores esportivos – até 300 pessoas em semana de “lua boa”. Nessa rua tem outras sete pousadas do mesmo ramo”, ressalta. Segundo o empresário, a atividade atrai turistas com alto poder aquisitivo.

A atividade ganharia fôlego com o aumento da diversidade de espécies no estuário de Iguape. Mas, de acordo com Yoshimi, as incertezas em relação à construção da barragem inibem investimentos. “Você acaba deixando de investir porque vai empatar o dinheiro em uma coisa que não sabe se vai para a frente”.

O empresário afirma que apesar de ter procurado os órgãos responsáveis pela obra, não conseguiu saber se o Valo Grande será mesmo fechado e qual é a previsão de conclusão do projeto. Outra questão que precisa ser resolvida é a gestão das comportas.

André Gimenez explica que é preciso saber os critérios que serão usados para determinar a abertura da represa em caso de cheia do Ribeira. Após o estabelecimento de culturas que necessitam de água salgada, uma grande entrada de água doce poderia provocar a morte desses animais. “Na situação de abertura, se ela durar mais de três ou quatro dias, a gente vai ter uma perda muito grande”, alerta.

O fechamento das comportas deve ocorrer gradualmente, na opinião do analista ambiental do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) Eliel Pereira de Souza. Segundo ele, é preciso avaliar aos poucos os efeitos da diminuição da água doce no ecossistema. “Se você fechar toda a água doce, você vai ter um choque de água salgada. Você tem toda uma estrutura de comunidade biológica que foi se estabelecendo com a água doce”, ponderou.

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