Vamos colorir a vida?

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e9acd52fcada6614a21e28261103be7bLi, recentemente, que alguns dos livros mais vendidos em 2015 no Brasil são de colorir. Sim, de colorir. Quando se fala em mercado literário, vem à mente grandes autores como Dan Brown, José Saramago ou Paulo Coelho. Neste ano, todavia, a opção do leitor ignorou as palavras: a preferência está nos desenhos em preto e branco que, completados por cores, supostamente ajudam a relaxar.

Os livros em questão são uma febre não entre as crianças, mas entre os adultos. Recebi a notícia com certa preocupação. Das duas uma: ora as pessoas estão perdendo o hábito da leitura, ora o cansaço da vida citadina está por lhes cobrar um preço alto demais. Qualquer que seja a resposta, a sociedade não vence. Trata-se de um reflexo da contemporaneidade: pouco tempo, muito trabalho.

Acredito no poder transformador do conhecimento. E acredito que pode haver conhecimento, sim, em um livro de colorir. Autoconhecimento, eu diria. Mas fico consternado com o ritmo imposto às pessoas. As exigências da labuta diária deixam todos alucinados para adquirir dinheiro, conquistar um determinado estilo de vida. Regularmente, a reflexão de cada um é inevitável: “o que diabos estou fazendo?”. Em vez de ver os filhos crescendo, o indivíduo está preso no escritório. Ele dedica mais tempo ao emprego do que a si ou sua família.

A grande dialética da vida é encontrar equilíbrio entre trabalho, família e bem-estar. Tendo em vista que os livros de colorir lideram as vendas – com a finalidade de desopilar – eis a prova que o bem-estar coletivo anda atribulado. Nesse contexto, a família é uma instituição à beira da falência. Aumenta o número de divórcios e crescem as demandas de saúde mental. A culpa da insípida educação no Brasil não é apenas do governo. O exemplo de casa, em muitas ocasiões, igualmente não ajuda na formação de cidadãos decentes e convictos de suas responsabilidades.

O trabalho, por sua vez, está em polvorosa. Virou uma obsessão. O que o trabalhador não percebe, contudo, é que entrega muito mais do que recebe. Quem paga a infelicidade de um relacionamento ausente? Quem cobre os prejuízos de um filho que não viu seus pais na apresentação teatral da escola? Em vez de colorir um livro, portanto, está na hora de começar a colorir a sua vida. No final, não haverá arrependimentos.

Gabriel Bocorny Guidotti
Bacharel em Direito e estudante de Jornalismo.

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