A mais jovem velejadora a dobrar o temido Cabo Horn

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“Se você quer dar a volta ao mundo, vai ter que ficar menos medrosa”. A frase dita a si mesma ainda na infância pela australiana Jessica Watson reflete a atitude determinante na história da menina que virou celebridade após dar a volta ao mundo sozinha aos 16 anos velejando em seu iate cor-de rosa, o Ella’s Pink Lady.A proeza teve início em 17 de outubro e terminou no dia 15 de maio deste ano, três dias antes dela completar 17 anos, quando foi recebida por milhares de australianos.

Para tirar o sonho do papel, ela precisou enfrentar seus medos de escuro, de água e tempestade, e ainda superar dificuldades “adultas”– o que, para ela, foi a parte mais difícil: conseguir patrocínio, um barco, suprimentos e, principalmente, capacidade para convencer como velejadora responsável.

“Eu sempre fui uma criança muito medrosa, tinha medo de tudo. Quando eu disse para os meus pais aos 11 anos que queria fazer isso (a viagem), acho que eles não acreditaram”, diz Jessica, que hoje viaja o mundo dando palestras sobre a sua experiência e veio ao Brasil participar do São Paulo Boat Show, que acontece até o dia 19 de outubro na capital paulista.

“Dizem que meus pais são loucos por me deixarem fazer isso, mas não são: eu provei para eles que estava pronta antes de partir”, afirma. Jessica se interessou por barcos aos oito anos de idade, quando sua mãe matriculou a família em um curso de navegação, mas não se apaixonou pela atividade. “Demorou para eu começar a gostar”.

Aos 13, inspirada pelo livro do também australiano Jesse Martin, que conquistara o título de mais jovem navegador a completar a façanha (ele tinha 18 anos), ela decidiu levar o projeto a sério. “Foram dois anos de intenso trabalho e preparo. Não foi fácil conseguir experiência, não era qualquer dono de barco que me deixava velejar”, disse. Na fase de testes no mar, ela colidiu contra um enorme cargueiro e recebeu muitas críticas sobre a viabilidade de sua aventura.

Na viagem, passou por muitas tempestades sozinha. “Cheguei a ver ondas de dez metros de altura e ventos de 70 nós”, conta. No trajeto de volta à Austrália, enfrentou uma sequência de vendavais e chuvas fortes.

Tornou-se ainda a mais jovem velejadora a dobrar o temido Cabo Horn, ponto que representa um marco de extremo perigo para navegantes de todas as categorias. “Até que peguei um tempo bom lá”, diz.

No barco, se comunicava com os pais por internet via satélite, bebia água armazenada da chuva e se alimentava basicamente de enlatados e cupcakes que gostava de fazer na cozinha. “Eu não sou boa pescadora. Só consegui pescar um peixe a viagem inteira”, brinca Jessica.

De volta à terra firme na Austrália, ela nunca mais encontrou rotina. Escreveu um livro sobre a experiência que já é best-seller na Austrália, viaja o mundo dando palestras e conquistou a independência financeira antes mesmo de aprender a dirigir. Além disso, tanto esforço prejudicou o desempenho nos estudos.  Fiquei um pouco para trás, tenho muito o que recuperar agora”.

Jessica sorri ao dizer que, no futuro, planeja viagem semelhante. “Claro que faria de novo. Desta vez mais rápido, e com mais destinos programados. Mas definitivamente, eu iria”.

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