O governo iraniano quer aplicar de parte de suas reservas internacionais no Brasil, dentro de um conjunto de medidas que prevê ainda a criação de um banco bilateral e o uso de moeda local nas transações comerciais.
Embora a proposta do governo iraniano seja de conhecimento da área diplomática do Brasil, ela ainda não chegou ao presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, segundo a assessoria de imprensa do BC. A iniciativa na área bancária e financeira fará parte dos assuntos que serão tratados durante a visita do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, ao Brasil, prevista para este mês.
O estabelecimento de mecanismo financeiro bilateral faz parte da estratégia de fortalecimento das operações comerciais entre os dois países. A expectativa do Irã é de que o Brasil possa oferecer uma linha de crédito para exportações de bens e serviços. O governo iraniano depositaria recursos em uma conta-garantia no Brasil, que serviria para mitigar o risco das operações e, desse modo, reduzir significativamente o custo do seguro de crédito.
A política externa do Irã, desde a ascensão de Ahmadinejad ao poder, passou a atribuir elevada prioridade ao diálogo Sul-Sul ao fazer arranjos de cooperação com países como Cuba, a Nicarágua e Venezuela. O Brasil deve receber o mesmo tratamento e espera-se, em cinco anos, elevar para US$ 15 bilhões as relações de comércio entre os dois países, atualmente em torno de US$ 1 bilhão.
Com o aprofundamento dessas relações, no âmbito do comércio e do sistema financeiro, as autoridades iranianas acreditam na atratividade do Brasil como destino de investimentos estatais e privados. Para elas, os capitalizados fundos de pensão do Irã, como o fundo de aposentadoria dos funcionários da National Iranian Oil Company (Nioc, a sigla em inglês), devem fazer aportes de recursos em diversos segmentos da economia brasileira.
A crise política envolvendo o programa nuclear iraniano tem fechado as portas do sistema financeiro internacional ao Irã. Uma parcela dos investimentos iranianos no mercado europeu teve que ser realocado para o Japão, a África do Sul e a Malásia. O Brasil pode ser beneficiado com parte desses investimentos.