O Ministério da Defesa criou um comitê para supervisionar o trabalho de busca da história da Guerrilha do Araguaia sem a participação de parentes dos mortos e desaparecidos na região. A informação foi dada hoje (9) pelo ministro Nelson Jobim, em audiência pública na Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados.
Jobim alegou que a participação dos parentes tem um impedimento legal: o fato de que as famílias são parte na ação que condenou a União a realizar as buscas de corpos na região do Araguaia. “Não é possível a participação dos familiares, porque eles são parte da ação. Por isso, não aceitei a sugestão do ministro Paulo Vannuchi [secretário especial de Direitos Humanos da Presidência da República]. O Ministério Público, que ainda dará parecer no processo, também não pode participar das buscas”, disse o ministro na audiência.
Ele informou que chegou a convidar parentes e integrantes da Comissão de Mortos e Desaparecidos – órgão ligado à Secretaria Especial de Direitos Humanos – para participar do grupo de trabalho na condição de observadores independentes. “Não tive resposta nenhuma. A resposta que tive ao convite, feito em particular, foi por meio de nota a imprensa, publicada com o objetivo de questionar a legalidade do grupo de trabalho”, reclamou Jobim.
Na nota, divulgada há um mês, a Comissão dos Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos critica a falta de participação nas buscas e contesta a participação do Exército.
O Comitê Interinstitucional Supervisor, além de acompanhar os trabalhos técnicos, poderá também propor diligências, coletar depoimentos e receber informações sobre o Araguaia. Presidido pelo ministro da Defesa, o comitê contará também com a participação do ministro Vannuchi.
O Ministério da Defesa convidou ainda para compor o comitê o ex-ministro da Justiça José Gregori, que criou a Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos; o ex-procurador geral da República Cláudio Fonteles, além de jornalistas com trabalhos publicados sobre o assunto. indicado pelo PCdoB, o ex-deputado federal Aldo Arantes também integrará o grupo.
“Tenho resistência a aceitar um deputado que esteja no cargo para que essa questão não vire uma questão política. Já estive nessa Casa [Câmara dos Deputados] e sei como as coisas funcionam”, disse Jobim, justificando o fato de ter recusado o nome do deputado Flávio Dino (PCdoB-MA), anteriormente indicado pelo partido para participar do trabalho.
Luciana lima
Repórter da Agência Brasil