Lula afirma que Obama ignora América Latina

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lulaO presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez críticas ontem ao presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que, segundo ele, não tem dado atenção à América Latina. Lula criticou a instalação de uma base militar americana na Colômbia e disse que ela tem que se restringir aos domínios daquele país, não atuando “na fronteira (da Colômbia) com outros países”.

“Ficamos surpresos com a transferência de Manta, no Equador, para a Colômbia. Nós não mexemos com a soberania da Colômbia, mas o que queremos é que, no tratado assinado com os EUA, fique explícito, para nos dar garantia do direito internacional, que a base tem como princípio fundamental a atuação dentro da Colômbia e não na fronteira de outros países”, disse o presidente.

Os comentários foram feitos durante café da manhã com os editores do jornal britânico “Financial Times”, que promoveu ontem, em parceria com o jornal “Valor Econômico”, o seminário “Investing in Brazil”.

Num dado momento do encontro, um editor do “FT” disse que os americanos estão preocupados com a Venezuela de Hugo Chávez e perguntou a Lula se teria algum conselho a dar a eles.

“Não sei se os americanos deveriam estar preocupados com o Chávez ou o Chávez com os americanos. Um discurso justifica o outro”, respondeu o presidente.

Lula disse que, em abril, a Cúpula das Américas, realizada em Trinidad Tobago e que teve a presença de Obama e Chávez, além da maioria dos líderes dos países latino-americanos, foi uma reunião “maravilhosa”, mas não rendeu frutos.

“Eu disse ao presidente Obama depois da reunião que estava dado o pontapé inicial para que ele restabelecesse uma relação mais produtiva com a América Latina e a América do Sul. O dado concreto é que não aconteceu nada depois disso, a não ser o golpe de Honduras”, comentou Lula.

O presidente afirmou que, nas décadas de 60 e 70, havia forte ingerência política do governo americano nos países da região. Ele mencionou que embaixadores americanos costumavam se intrometer em questões internas desses países. “A verdade é que, hoje, somos um continente que exerce a democracia de maneira muito forte”, assegurou ele.

Lula cobrou maior atenção do presidente Obama à América Latina. “As preocupações com o Iraque, o Afeganistão e o plano de saúde não estão permitindo que o Obama dedique uma atenção maior à AL. Eu penso que era importante que os EUA tivessem mais interesse na AL para que a gente pudesse consagrar definitivamente uma dinâmica de paz e envolvimento com o continente.”

Um outro editor do “Financial Times” ponderou que Chávez teria prometido não apenas dificultar o comércio com a Colômbia, mas eliminá-lo. Lula respondeu que “não é possível fazer política” a partir de manchetes dos jornais. “Um chefe de Estado não pode se pautar por isso”, observou, acrescentando que há grande complementariedade entre Colômbia e Venezuela.

O presidente reiterou a crença de que Chávez e o presidente colombiano, Alvaro Uribe, vão se entender. Disse que jantou recentemente com Chávez e almoçou com Uribe, “em dias diferentes” , e informou que vai colocar os dois juntos durante encontro, no dia 26 deste mês, em Manaus, dos países da região amazônica, com o objetivo de definir uma posição comum para a conferência da ONU sobre clima.

Durante o café da manhã, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, falou sobre a recuperação da economia brasileira da crise financeira mundial e a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, sobre os compromissos do Brasil com a redução de emissão de gases-estufa. Participaram também do evento o ministro da Comunicação Social, Franklin Martins, os presidentes do Banco Central, Henrique Meirelles, do Banco do Brasil, Aldemir Bendine, e do BNDES, Luciano Coutinho, e o secretário-geral do Ministério das Relações Exteriores, Antônio Patriota.

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