O Quociente Eleitoral: Tiririca e a Lei da Ficha Limpa

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Por aline

Estamos muito próximos das eleições nas quais escolheremos Senadores, Deputados Federais e Estaduais, Presidente , governador,e vemos, com pesar dois episódios que embora possam a primeira vista não ter uma ligação direta, fazem parte de um mesmo cenário político de falta de ética e respeito com os eleitores. De um lado, um conhecido humorista brasileiro, que atende pelo nome artístico de “Tiririca” (PR), candidata-se a Deputado Federal,com um slogan de campanha absolutamente leviano. De outro, um empate vergonhoso de 5 votos a 5 entre aqueles que aprovam e os que são contrários ao projeto de lei da Ficha Limpa.

Bem, segunda-feira, dia 27 de setembro de 2010, a jornalista e cientista política Lúcia Hippólito (da Rádio CBN) apresentou uma palestra sobre eleições e política no Brasil, na Livraria da Travessa do Shopping Leblon. Alguns aspectos abordados na palestra podem nos ajudar a entender como a candidatura de José Everardo, o Tiririca, e a Ficha Limpa estão interligados. Não sei se é de conhecimentos de todos os eleitores mas existe um mecanismo na política chamado de quociente eleitoral. Para os que não conhecem, trata-se da soma de todos os votos válidos para um candidato determinado, e divide-os pelo número de cadeiras que o estado daquele deputado ocupa. Assim, por exemplo, quando o falecido Enéias foi eleito por São Paulo, sua quantidade de votos foi tão grande que os votos “excedentes” foram distribuídos para outros candidatos do partido. Pois bem, se a candidatura de “Tiririca” não for cassada (já que há a suspeita de que ele é analfabeto e pela legislação não poderia se eleger), seus votos excedentes seriam capazes de eleger, em média, 2 ou 3 candidatos da coligação partidária para deputados federais do seu Estado. Alguns desses candidatos, inclusive, segundo a jornalista, estão envolvidos em escândalos e por isso mesmo não seriam reeleitos (Um exemplo disso é candidato citado pela revista Istoé, Valdemar da Costa Neto, que renunciou ao cargo de presidente do PR por envolvimento com o esquema do Mensalão) . Vale lembrar que também conhecemos outros candidatos que, sendo do meio artístico ou esportivo, utilizam-se da fama que possuem para arrematar votos, a lista é grande: Romário (ex jogador); Bebeto (ex jogador); “Kiko” e “Leandro”, os irmãos do KLB, e a enxurrada de mulheres frutas que não possuem qualquer compromisso com com a política e ali se apresentam não em prol do eleitor, mas de si próprios. Esses podem, perfeitamente, tornarem-se candidatos que arrecadarão votos para elegerem esses demais candidatos “ficha suja”. Bem, mas, então, o que tem a ver a Ficha limpa com esses casos?

Na mesma palestra (ou antes, uma conversa com o público), Lúcia Hippólito considera – e cá entre nós, ela tem razão – a Lei da Ficha Limpa um avanço significativo no processo político do país, o que significa que avançamos em termos de consciência política e participação no processo democrático. A lei surge da demanda do povo pelo fim da corrupção e o descontentamento com aqueles políticos envolvidos em escândalos como o mensalão e tantos outros anteriores e posteriores a esse famoso caso. Então, diante dessa provável não reeleição de alguns políticos já “carimbados” com a marca da corrupção, o partido aproveita-se de seu número de votos excedentes (o que pode ser encarado já como uma estratégia de manobra política do partido, segundo a própria jornalista) para eleger justamente esses candidatos que a população, de maneira geral, cansada de tanta falcatrua e enrolação, não reelegeria. Dessa maneira podemos ver o quão importante é votar de maneiras consciente e sensata. Claro que cada eleitor tem o direito de votar em quem achar melhor, mas, é importante que saiba desses detalhes que passam desapercebidos. Por descontentamento político ou como forma de “protesto”, os mesmos setores sociais que clamaram e apoiam a lei da ficha limpa (que é uma forma de dizer não a corrupção) podem, ao votar em candidatos “fabricados”, ajudar a eleger justamente aqueles que continuarão a participar de episódios de corrupção e desrespeito aos cidadãos brasileiros.

A História brasileira nos ajuda a pensar e refletir o quanto nossa política abriu maior possibilidades de ação para nós, cidadãos, de mudarmos os rumos do país. Se antes, nos períodos colonial e imperial o voto era restrito aqueles que tinham mais riquesas (voto censitário) hoje, ele é universal. Se na república velha ele era aberto, possibilitando o “cabresto” de coronéis que exigiam o voto para determinados candidatos, hoje, ele é fechado, diz respeito apenas a cada um de nós. Foi uma luta árdua,que permanece presente em nosso país, mas muitas foram as conquistas. O que falta então? Voltou a falar do bom senso durante as eleições, da necessidade de atentar para aqueles que estão se candidatando, suas ligações com outros políticos que perpetuam o rastro de corrupção no país. Voto Nulo? É um direito, mas na opinião de Lúcia Hippolito e com minha concordância, apenas contribuiria para que os membros das elites brasileiras continuassem mandando e desmandando no Brasil, afinal, valeria, nesse caso, a máxima “quem cala consente” e se está difícil o povo se ver representado pelos nosso políticos, seria ainda pior. Certamente, as demandas pela lei da “Ficha Limpa” não teria sido sequer considerada. Assim, com o voto obrigatório, vale a nossa consciência de que podemos e devemos reivindicar mais respeito às necessidades do país, por parte de nossos políticos.

2 COMENTÁRIOS

    • Ai Ai, um texto auto explicativo, com tanta informação e você me vem apoiando a palhaçada das eleições, aposto que votou no tiririca e ajudou a eleger novamente os mensaleiros.

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