Exames simples podem evitar problemas renais

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rins2Responda logo: que doenças podem levar a lesões graves nos rins? Se você não sabe, faz parte dos mais de 130 milhões de brasileiros a ignorar que diabetes e hipertensão abrem portas para o mau funcionamento do órgão responsável, entre outras tarefas, pela filtragem do sangue. Juntas, as duas doenças são a causa de 60% das sessões de hemodiálise feitas no país, por 90 mil pessoas. O que a maioria desses pacientes jamais imaginou é que o sofrimento por precisar de uma máquina para viver poderia ter sido evitado com exames simples, de urina e sangue, pagos pelo Sistema Único de Saúde.
As análises laboratoriais são capazes de identificar problemas nos rins, ainda em fase inicial. O de sangue detecta um aumento na presença de creatinina. A substância é filtrada pelos rins e, se aparece em excesso na amostra, revela que eles não estão trabalhando como deveriam. Já o teste de urina pode apontar a presença de sangue ou de determinadas proteínas juntas ao xixi, o que não ocorre em pessoas saudáveis.
O diagnóstico precoce é aliado dos médicos na busca de medidas para prevenir – ou ao menos adiar – o comprometimento definitivo dos rins. “Saber o quanto antes que esses órgãos estão falhando é importantíssimo porque as doenças renais crônicas são silenciosas”, explica o nefrologista Miguel Carlos Riella, presidente da Fundação Pró-Renal Brasil e da Federação Mundial das Fundações do Rim.
O médico diz ainda que, na maioria dos casos, a pessoa só descobre o problema após o surgimento dos primeiros sintomas – como inchaço nas pernas, palidez e idas constantes ao banheiro, à noite. Mas quando o organismo dá essas pistas, 75% da função renal já foi afetada, com chance mínima de reversão do quadro.
“É muito difícil conseguir a regressão porque os filtros que restam trabalhando nos rins são poucos, e têm que dar conta de todo o volume de sangue”, diz Miguel Riella. Ao paciente, resta submeter-se às sessões de hemodiálise ou, em quadros mais graves, ainda entrar para a lista de pessoas à espera de transplante.
“Os exames de urina e de sangue são simples, baratos e oferecidos pelo SUS”, diz o médico. Devem ser feitos principalmente por quem apresenta fatores de risco para doenças renais crônicas (DRCs). Fazem parte do grupo hipertensos, diabéticos, obesos, idosos e pessoas com história familiar de males cardiovasculares ou renais. No mundo, estima-se que 500 milhões de indivíduos sofram, em algum grau, de DRCs. Doze milhões vivem no Brasil.
Uma das formas de tratamento, diante do diagnóstico de DRC em fase inicial, está na prescrição de remédios que reduzem a pressão do sangue dentro dos rins. Os órgãos atuam retirando toxinas do sangue e são essenciais à nossa sobrevivência. Quando a capacidade de filtragem está muito baixa, a limpeza é feita artificialmente, por uma máquina ligada ao corpo. O processo é chamado de hemodiálise.
Mas nem o uso do equipamento garante uma vida normal ao paciente – daí o alerta ainda maior para a prevenção.
“Três sessões de diálise por semana, com duração de quatro horas cada, só correspondem de 12% a 14% do papel de um rim perfeito”, diz o médico, também professor da Universidade Católica do Paraná. Miguel Riella defende que toda pessoa faça os exames de urina ou sangue periodicamente.
“Falta informação. Nosso corpo é como um carro. Pode até ser novo, mas precisa de revisões periódicas. Mesmo sem dar pistas de que algo não vai bem”, avisa o nefrologista.
Se tivesse recebido orientação correta, talvez o aposentado Neri Lucindo de Assunção, 71 anos, não precisasse passar, hoje, por três sessões semanais de diálise. Diabético, ele afirma nunca ter recebido informação de médicos para monitorar, por exames, o funcionamento dos rins.
Há dez anos, Neri procurou um especialista depois de sentir dores e inchaço na perna. Foi quando descobriu ser portador de uma DRC.
Mas já era tarde. Desde então, ele depende do equipamento de filtragem de sangue para sobreviver. O tratamento é feito na Santa Casa de Belo Horizonte. “Até aquela hora, nunca havia imaginado que diabetes pudessem levar a um problema de rins. Hoje, quando conheço alguém que também tem diabetes, já aconselho a buscar ajuda para fazer os exames de rins”, diz.

 População ignora cuidado com os rins

 O brasileiro tem pouca informação sobre o funcionamento dos rins e como cuidar bem deles. Essa é a conclusão de uma pesquisa feita pelo Instituto Datafolha, a pedido da Fundação Pró-Renal, com 2.556 pessoas. O levantamento mostrou que apenas 30% da população sabem quais doenças podem afetar o sistema renal e que 38% não conseguem dizer nenhum sintoma que indique problemas nos rins. Entre os entrevistados, só 24% apontaram, corretamente, dificuldade de urinar. Outros 24% disseram ter dores na barriga. Ir ao banheiro com frequência, à noite, pode ser outro indicativo – embora muita gente ache, de forma equivocada, que urinar constantemente é sinal de rins “em dia”.
 A pesquisa também mostrou que sete em cada dez pessoas afirmam tomar algum cuidado, no dia a dia, para preservar a saúde dos rins. Mas 63% acreditam que ingerir bastante água basta, o que não é verdade. “Tomar líquido é importante, mas o que controla essa necessidade é a sede. Não há estudos que relacionem essa ingestão de água com benefícios para os rins, a não ser para quem sofre de cálculo renal”, avisa Miguel Riella.
 Para prevenir problemas nos órgãos, ele recomenda o controle de peso, prática de exercícios, não fumar e alimentação saudável – com frutas, verduras, peixes e cereais, sem gorduras de origem animal e redução do consumo de carne vermelha, além do mínimo de sal.

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