Porto Alegre tem a maior taxa de mortes por HIV entre as capitais do país

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Na contramão desse número, centro gaúcho de atendimento a portadores do vírus chega a 90% de eficácia na interrupção da transmissão
IAN TÂMBARA

Nesta quinta-feira (1º), é celebrado o Dia Mundial Contra a Aids. No entanto, os números da doença em Porto Alegre e no Rio Grande do Sul não são animadores. Pelo contrário, os índices regionais seguem preocupantes, já que tanto o RS quanto a capital gaúcha apresentam dados piores do que a média nacional.

Segundo novo boletim epidemiológico divulgado pelo Ministério da Saúde (MS), o RS apareceu em quarto lugar no ranking dos Estados com mais casos confirmados de HIV em 2021, com 24,3 contaminados a cada 100 mil habitantes. Esse número segue, por mais um ano, acima da média nacional, que é de 16,5 a cada 100 mil. 

Dados do boletim epidemiológico também apontam que, enquanto no Brasil a média é de 4,2 mortes a cada 100 mil habitantes com HIV, o RS é o Estado com o maior índice de mortalidade, com 7,7 óbitos/100 mil hab. em 2021. Já entre as capitais, Porto Alegre teve o pior índice, com 22,6 óbitos/100 mil hab., cinco vezes maior do que o coeficiente nacional.

Para Diego Falci, infectologista e professor da Escola de Medicina da PUCRS, a alta mortalidade se deve ao fato de muitos pacientes estarem em áreas de vulnerabilidade social e, com isso, não mantêm a adesão ao tratamento. Isso, segundo ele, também é um dos fatores que contribui para a transmissão.

 — Porto Alegre tem muita disparidade econômica e as pessoas em vulnerabilidade social são mais afetadas. Também há a resistência ao uso do preservativo, uso de drogas injetáveis. Outro fator é a predominância do subtipo C do HIV nos Estados do Sul. Ele está mais associado à transmissão heterossexual e evolui mais devagar. Como a pessoa fica doente mais tarde, tem mais chances de passar o vírus — explica o médico.

 

Indetectável=intransmissível

Por muitos anos, ter o diagnóstico positivo do vírus causador da aids era considerado uma sentença de morte. Com o avanço dos tratamentos, um paciente soropositivo pode ter uma vida saudável hoje. Apesar de não haver cura, o tratamento é tão eficaz que, em muitos desses casos, a pessoa sequer tem a presença do vírus detectada no sangue. 

Em Porto Alegre, Serviço de Atenção Terapêutica (SAT) atende cerca de 2 mil pacientes com HIV que recebem as medicações e frequentam regularmente os exames de rotina. Cerca de 80% dos atendidos são oriundos da Capital enquanto os demais vêm do Interior do RS. Como comprovação de boa resposta ao tratamento, cerca de 90% dos atendidos no local apresentam, atualmente, a carga viral indetectável no sangue.  

Desse modo, uma pessoa que esteja há mais de seis meses indetectável e com tratamento mantido em dia não transmite mais o vírus, mesmo que tenha relação sexual desprotegida com um(a) parceiro(a) fixo(a), por exemplo. Nesse momento, o tratamento deixa a pessoa com a carga viral “I=I”, ou seja, indetectável e intransmissível. É importante dizer, entretanto, que, por mais que o vírus fique adormecido com o uso dos remédios, não significa que o paciente estará curado. O HIV pode voltar a se replicar no corpo da pessoa caso o tratamento seja interrompido.

De acordo com o Ministério da Saúde, todo portador do vírus da aids tem direito à assistência e ao tratamento gratuito pelo Sistema Único de Saúde (SUS), sem qualquer tipo de restrição. No SAT, o kit com as medicações é retirado pelos cadastrados entre dois a três meses. A partir disso, é necessário tomar os medicamentos e fazer uma revisão clínica uma ou duas vezes ao ano. 

O HIV utiliza as células de defesa do infectado para se multiplicar. Por isso, a principal função do kit é inibir essa reprodução, diminuindo a vida útil do vírus. Assim, a carga viral vai sendo reduzida até chegar em um estágio no qual os testes não detectam a presença ativa do vírus no organismo. 

O acesso aos medicamentos e sua utilização correta aumentam a expectativa de vida de uma pessoa soropositiva e permitem que ela viva uma rotina saudável. Gina Hermann, 54 anos, assistente social aposentada, descobriu a doença há 17 anos. Hoje, atua como ativista estadual no Movimento Nacional das Cidadãs PositHIVas (MNCP), que apoia mulheres cis e trans portadoras do HIV. Para ela, o progresso no tratamento proporciona uma melhor qualidade de vida hoje em dia.

— Quando eu descobri a sorologia, a testagem demorava quase uma semana para ficar pronta. Agora, temos o resultado na mão, em menos de meia hora. Nós também tivemos avanços na medicação. Há 15 anos, eram 16 comprimidos difíceis de ingerir e de armazenar. Hoje, há pessoas que tomam apenas dois comprimidos. Então, o impacto que isso gera de efeitos colaterais é bem menor.

Profilaxia

Gina Hermann atua como ativista estadual no Movimento Nacional das Cidadãs PositHIVas Gina Hermann / Arquivo Pessoal

Outro medicamento moderno que tem apresentado resultados positivos é a Profilaxia Pré-Exposição ao HIV (PrEP), que consiste no uso oral e diário de dois medicamentos antiretrovirais em um único comprimido: o tenofovir (TDF) e entricitabina (FTC). Uma caixa do produto vem com 28 comprimidos.

A medicação está disponível de graça no SUS e é recomendada desde 2015 pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Segundo a fabricante farmacêutica Blanver, o método tem reduzido a incidência de novos casos em até 62% nos últimos três anos.

A PrEP é prescrita para pessoas que tenham uma maior chance de entrar em contato com o HIV. Segundo protocolo do MS, as populações prioritárias são homens gays, bissexuais e outros homens que fazem sexo com homens, pessoas trans (mulheres transexuais, travestis, homens trans e pessoas não-binárias), profissionais do sexo e pessoas que estejam se relacionando com uma pessoa que tenha HIV.

 

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